Simples Assim: uma crítica bem humorada dos modos de vida atuais

por Viviane Loyola

Com apresentações em Belo Horizonte nos dias 05 e 06 de outubro, no Teatro Sesiminas, o espetáculo “Simples Assim” leva ao palco uma série de esquetes interligados que nos convidam a refletir sobre a dependência tecnológica e a fragilidade das relações na contemporaneidade. Assisti à peça em julho, no Rio de Janeiro, e o que vi foi uma mistura de drama, humor e sátira ao se abordar temas complexos sem perder de vista a sutileza, em um espetáculo que nos faz rir e pensar.

Nunca sei ao certo o motivo pelo qual gosto ou não de uma peça e nunca é um motivo só. Gostei de “Simples Assim” por tantas coisas que senti vontade de compartilhar.     

Pode ter sido o teatro lotado. Sempre me emociono com um teatro cheio em tempos de crise de público e dinheiro para a cultura, ainda mais para o teatro, e me identifico com diálogos bem escritos que possibilitam a compreensão de todos, sem afetação. A plateia animada, interagindo, é um sinal de que a peça captura e consegue ser descomplicada e atraente a toda gente.  

Pode ter sido o fato de estar cercada por amigos que me acompanhavam e pela noite depois do espetáculo. Sempre imagino o teatro como a possibilidade de um programa completo, um encontro com amigos para uma conversa boa e comes e bebes. A noite toda parece fazer sentido porque fomos ao teatro e ficamos um diante do outro sem o celular. Ir ao teatro é um ritual que nos obriga a desconexão durante o tempo da experiência e depois dela quando a peça vira assunto na mesa do bar. E, justamente, “Simples Assim” fala deste paradoxo entre a enorme conexão e a separação entre as pessoas, sobre a dificuldade até mesmo de nos concentrarmos em uma peça de teatro.   

Pode ter sido o fato da peça ser uma adaptação de livros que já li, “Quem diria que viver iria dar nisso” e “Simples Assim”, de Marta Medeiros. Estava muito curiosa para saber como seria a adaptação das crônicas para o teatro porque elas falam de temas e lugares diversos. Assistir a uma peça que é adaptação de um texto que você conhece, de uma escritora que admira, é uma onda diferente. E deve ter sido um desafio para o diretor Ernesto Piccolo e para a própria Marta Medeiros que atuou na adaptação junto a Rosane Lima. Desafio cumprido – a peça consegue captar a essência dos livros porque o lugar daqueles personagens é o tempo atual.           

     

Pode ter sido o fato de estar diante de ídolos. Sim, tenho ídolos. Não se envergonhe disso. Sou muito apaixonada por teatro, dos que dele vivem, e gostaria de mais gente me fazendo companhia.  A peça tem um trio que acompanho sempre: Julia Lemmertz, Georgiana Góes e Pedroca Monteiro se revezam em cena numa sucessão de tipos contemporâneos e contracenam juntos ao final. Posso ir sem problemas a peças de teatro com atores que não conheço, nunca os vi em cena, e ser surpreendida por suas atuações. Aconteceu tantas vezes. Agora ir ao teatro para assistir a ídolos torna o espetáculo um desejo realizado.    

Pode ter sido porque nem sei quantos filmes, séries e novelas foram estrelados por Julia Lemmertz e quantas vezes a admirei em cena. Tinha muita vontade de vê-la no teatro e pude fazer isso. Ela é mesmo incrível como imaginei seria e surpreendente porque a vi poucas vezes fazendo humor, encarnando a personagem que não consegue se libertar do celular. Ir ao teatro é ver quem você sempre viu de um jeito diferente, ser atravessada pela versatilidade do artista.      

Pode ter sido porque assisti Georgiana Góes em Confissões de Adolescente. Quis ser Barbara, a mais divertida, a personagem mais irreverente das quatro irmãs da série que marcou minha adolescência. Depois a vi em outros trabalhos e dei muita risada com ela no humorístico Tá no Ar. E ela me fez rir novamente interpretando a Morte no espetáculo. Quando o artista te provoca o riso, nesses tempos bicudos, merece aplausos. Ir ao teatro acaba sendo um encontro com o riso perdido e com o ídolo da adolescência.    

Pode ter sido porque recentemente conheci Pedroca Monteiro no Youtuber, no canal Pedroca Desabafa, e depois o vi no teatro na peça “O Condomínio” e em algumas participações no cinema. Nunca entendi porque não o conheci antes. Ele tem talvez a fala mais contundente do espetáculo, o melhor esquete, o apresentador de tevê que não suporta mais dar notícias ruins e, certamente, nós também não merecemos mais ouvi-las. Eu quero ser amiga do Pedroca. Todo mundo que assiste ao canal quer ser amiga do Pedroca. Ir ao teatro é se encontrar com aquele de quem você gostaria de ser amiga e será apenas espectadora.

Por tudo isso, principalmente porque acredito no teatro, gosto de atores, tenho essa peça na memória e no afeto. Quem sabe possam sentir a mesma sensação que experimentei naquele sábado carioca na companhia de amigos. E, se não puderem assistir, escolham um dia destes uma peça de teatro para prestigiar. Os artistas precisam do público. O teatro agradece. 

Crítica por Viviane Loyola

SERVIÇO

Simples Assim

Belo Horizonte

De 05/10/2019 a 06/10/2019

Ingressos:  De R$40,00 a R$100,00

Horário:   Sáb 19h e 21h | Dom 19h

Local:  Teatro SESIMINAS 

 

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