Katsushika Hokusai e o visual do monte Fuji

por Homero Nunes

Viajantes surpreendidos por um vento súbito em Ejiri

Katsushika Hokusai, 1832
 
O monte Fuji foi desenhado em uma linha simples, única, fazendo a silhueta que compõe a cena de folhas e papéis voadores e pessoas desconcertadas pela rajada de vento. O chapéu de um viajante voa com as cartas, embalado pelo movimento que sopra a paisagem. Ele gesticula surpreso, como se desse adeus ao cone de palha. Os chapéus dos outros estão seguros pelas mãos e pela posição contrária ao vento, curvados pela natureza que dobra as árvores e as pessoas. Perdida está a mulher em papéis que escapam, que se espalham no sentido da cena, poeticamente levados pelo acaso, entre as coisas precárias da vida e a inexorabilidade da natureza, do tempo.
 
A xilogravura pertence à série “36 vistas do monte Fuji”, criada por Katsushika Hokusai na década de 1830. O artista focou o monte por diversos ângulos, alterando composições, cores, traços, estilos. No caso, Ejiri era um posto dos correios, próximo à baía de Suruga, às margens da pequena estrada que serpenteava em direção ao monte Fuji. Fugaku sanjū-rokkei.
 
A grande onda de Kanagawa
Katsushika Hokusai, 1829-1833
 
Talvez a mais reproduzida das obras de arte japonesas no ocidente, também parte das 36 vistas do monte Fuji, mostra o nevado ao fundo, quase engolido pela grande onda em um mar revolto. Engolidos mesmo serão os barcos e os homens, pequenos e frágeis diante de uma onda no formato de uma boca aberta com dentes e presas. Bela e implacável natureza.
 
 
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