por Homero Nunes
Kind of Blue, de Miles Davis é o disco de jazz mais vendido no mundo. Em 2009 o LP completou 50 anos e por isso algumas publicações a respeito começaram a aparecer na minha frente. Por vezes resisti à leitura, mas acabei me entregando ao título da matéria: “a trilha sonora do céu”. Nem sei quem escreveu aquilo, mas ecoava a efeméride do disco ao parafrasear o New York Times, de 1959, ano do lançamento. Os adjetivos eram: gênio, transformador, fundamental, histórico, clássico, definitivo. Afinal, o que cargas d’água tinha aquele disco para ser tão importante?
Garimpei o vinil na internet. Alguém dizia que a versão Mono era melhor que a Stereo, outro dizia que não. Enfim, encontrei uma edição comemorativa dos 50 anos, com as duas versões, em vinil de 180 gramas. Caro, especial o álbum. Assim, em vinis de grande gramatura, Mono e Stereo, fui apresentado ao gênio de Miles Davis.
Miles Davis, por Anton Corbijn, 1985 |
Poutz! Atrasado, defasado, conheci tardiamente o trompete de Miles Davis. Não pude acreditar em quanto tempo eu perdi sem escutar aquele som. Tardiamente fui entender o que era o jazz, além da música lenta tocada no elevador. Não, não era coisa de pedantes e de gente sofisticada. Era um tipo de tristeza, linda, a kind of blue.
O disco foi um marco na história do jazz pela simplicidade, honestidade, sem muitos recursos, com grandes músicos tocando música boa, gravada com qualidade. Apenas saxofone, baixo, piano, bateria e o trompete de Miles Davis. Mais que isso foi a criatividade, a fusão de ritmos, a reinvenção do jazz, o auge da música negra americana, “a trilha sonora do céu”.
Miles Davis era o gênio por trás de tudo, inovador, revolucionário, um arquiteto da música, um criador. Aberto a influências múltiplas, fusões sonoras, experimentações, rompimentos, quebraduras, modalidade. Escolheu a dedo os músicos do disco: John Coltrane, Julian “Cannonball” Adderley, Bill Evans, Paul Chambers, Wynton Kelly e Jimmy Cobb. E com eles gravou o melhor disco de jazz da história.
Kind Of Blue
Columbia Records, 1959
Gravado em duas sessões, em 2 de Março e 22 de Abril de 1959
no 30th Street Studio em Nova York.
Compensa o mini-documentário:
Celebrating a Masterpiece: Kind of Blue
por Michael Cuscuna, 2009
Coluna: Música