Cinebiografias sonoras: meia dúzia de histórias de músicos que valeram um filme

por Homero Nunes
Bird
Clint Eastwood, 1988

O cinema soprou o saxofone de Charlie Parker para contar a história de um dos maiores músicos de jazz de todos os tempos. Apelidado de Bird, pássaro, o músico revolucionou o estilo nos anos 40 e 50, criando o Bebop, um jazz mais sofisticado, mais elaborado em ritmo e harmonia. Representado no cinema por Forest Whitaker (melhor ator em Cannes pelo papel), Charlie Parker seria lembrado também pela vida desregrada, em álcool e drogas, e pelos excessos que também transformam a história de vida em um grande filme. O talento, a criatividade e a falta de juízo que mudariam para sempre a história do Jazz.
Piaf
Olivier Dahan, 2007

Edith Piaf foi uma mulher de muitos amores e muito sofrimento. Assim, sua cinebiografia vai da infância de pouco amor à vida de muitas tentativas, tocando as teclas das angústias: não teve um só amor que não lhe causasse sofrimento. A cantora, estrela, tinha que conviver no dia-a-dia com o amor do público exaltado em palmas, elogios e adorações mil; mas também, ao mesmo tempo, com a loucura de entrar, de cabeça, em aventuras pouco correspondidas. E era cobrada por isso, no falso moralismo, nos disse-me-disse da vida. Na história em filme, Edith Piaf vai envelhecendo no corpo e no coração, em voz, na música, passando do sofrimento ao amor e voltando, dizendo não se arrepender de nada: “Je ne regrette rien”.

Jonny e June 
James Mangold, 2005

O casal country Jonny Cash e June Carter deu as caras no cinema dividindo os palcos e a vida. Ainda que June Carter apareça como referência central no filme, pela longa relação do casal e pela importância da cantora na vida de Jonny Cash, o foco é mesmo na vida atribulada do Homem de Preto, Man in Black. Do vício em comprimidos, anfetaminas sobretudo, às idiossincrasias do cantor – como por exemplo gravar disco ao vivo na prisão (At Folsom Prison) – o filme aborda a superação que Cash conseguiu de si mesmo, com a ajuda de June Carter e de Jesus. O Casal foi representado por Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon, ele foi indicado ao Oscar pelo papel de Jonny Cash e ela ganhou o Oscar de melhor atriz por fazer a June Carter no cinema.
Amadeus
Milos Forman, 1984

A história de Wolfgang AmadeusMozart. O filme levou oito Oscars em 1985, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator. Impecável, tem uma paleta de cores que cria a atmosfera de época, mérito da fotografia sutil (repare nas cenas filmadas no teatro de Praga, à luz de velas). Cenários magníficos, figurino de acordo. Falar da música seria redundante – ora, estamos falando sobre Mozart! Mas o que dá fluxo ao filme é a narração pelo viés do invejoso, do medíocre Salieri, um compositor rival da época. Consumido pela inveja, Salieri se engasga no próprio veneno enquanto nos conta a história de Mozart e sua música, da infância à morte. Um certo humor negro que contrasta com a alegria dos altos e a tristeza dos baixos de Amadeus. Obrigatório.
Ray
Taylor Hackford, 2004

A biografia de Ray Charles foi estrelada por Jamie Foxx, que ganhou o Oscar de melhor ator pela interpretação. Com uma ótima caracterização de época, o filme recompõe passagens da vida e tramas musicais, enredando a música ao contexto social e histórico que forjou o caráter e a criatividade de Ray Charles. Desde os problemas de visão que o levaram à cegueira, aos problemas com as drogas, desde os casos amorosos, aos acasos profissionais, a cinebiografia apresenta um Ray Charles lutador, torto e direito, humano. Na trilha, como esperado, os grandes sucessos e muita música de qualidade. R&B.
Callas Forever
Franco Zeffirelli, 2002

A diva Maria Callas foi para o cinema em flashbacksde óperas e da movimentada vida de celebridade da música erudita. O diretor italiano Franco Zeffirelli, que conviveu com a soprano e a dirigiu em óperas muito tempo antes do filme, deu a Callas a oportunidade de contar, como se ela mesma, sua história 15 anos após a sua morte. Reclusa em seu apartamento em Paris, a decadente Maria Callas vê sua história em lembranças e imagens de seu passado glorioso, com momentos de estrela e turbulências pessoais. A diva foi talvez a personalidade mais famosa do mundo da música erudita no século XX, uma excelente cantora, maravilhosa. Compensa.


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