Burroughs: navegador da noite escura, o homem interior

por Anderson Batista
 
 
William Burroughs ou Willian Lee (pseudônimo) nasce em berço esplêndido em 05 de fevereiro de 1914, em St. Louis, Missouri. Persona de alma inquieta ensaia sua genialidade literária com pequenas publicações, já na adolescência. Chega a Harvard em 1931 graduando-se em 1936. Neste período investiga o cenário homossexual underground de Nova York.
 
 
Após sua dispensa do exército por instabilidade mental em 1942, experimenta morfina e adquire o habito. Em 1944 decide viver com Joan Vollmer Adams. Ambos dividem um apartamento com Jack Kerouac, autor genial, escritor compulsivo, considerado pai da geração Beat[1], e sua esposa Edie Parker. Outro ilustre frequentador do apartamento seria Irwin Allen Ginsberg, poeta, figura emblemática do movimento Beat, às vezes incomodado pela personalidade “reptiliana” e psicótica de Burroughs, já aficionado por armas de fogo e orgias químicas exuberantes adornadas preferencialmente por álcool, benzedrina, anfetamina, heroína e morfina. Acaba por matar acidentalmente Joan Vollmer com um tiro na testa, ambos drogados, Burroughs tentando acertar um alvo sobre a cabeça de Joan. Não paga pelo crime após pagar fiança, além de várias protelações do julgamento por homicídio. Exila-se em desespero concentrado em sua carreira literária. Um de seus livros mais famosos será “The Naked Lunch[2] (titulo sugerido por Jack kerouac) publicado em 1959, finalmente adaptado para o cinema em 1991, sob a direção de David Cronenberg.
 
 
Nos anos 80 Burroughs escapa da “peste” (AIDS), apesar de usuário adicto de drogas injetáveis, exigindo de seus companheiros que compartilhavam a seringa, que sempre injetasse a primeira dose.
A influência da obra de Burroughs abrange gênios da literatura americana como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, ícones da arte dos anos 60 como Francis Bacon e Andy Warhol, bandas como Led Zeppelin, Rolling Stones, Sonic Youth, Nirvana, músicos notáveis como Lou Reed, Nick Cave e Tom Waits. Muitos destes amigos pessoais de Burroughs até o fim de sua vida.
 
Francis Bacon e Burroughs, Londres, 1989
Kurt Cobain e Burroughs, Kansas, 1993
Jimmy Page e Burroughs, NYC, 1975
Gênio obscuro e psicótico Burroughs é a figura noturna que a sociedade puritana e hipócrita teme ferozmente, por contradizer o status quo, a época e ainda capacidade de resiliência do corpo e mente humana. Navegador da noite intelectual, vampiro, ora Queer amparando seus restos mortais sobre balcões sórdidos, ressurgia sempre das próprias cinzas, sólido e tangível. Seria comum e desta forma se os homens fossem reais e fiéis a suas aspirações secretas e solitárias.
 
William Seward Burroughs II _um dos escritores mais estigmatizados do cenário literário americano da era Beatnik exalou seu último trago em 02 de agosto de 1997, em Lawrence, Kansas. Velado no palco do Liberty Hall, homenageado, então, de forma sincera por anônimos, e exaltado por hipsters fanáticos, além de “Madonas” viciadas do cenário Rock cliché (estas que o acompanharam e utilizaram como amuleto de loucura desde o começo). Morreu aos 83 anos; longevidade improvável para um homem dedicado a mergulhar no negrume profundo do próprio desespero, valendo-se dos mais diversos e inebriantes recursos químicos conhecidos pela espécie humana.
Em profunda tristeza, não há lugar para sentimentalismo.
William Seward Burroughs II
é5 02 1914 … +2 08 1997
 
Compensa:
 Almoço Nu, 1959
O Festim Nu, David Cronemberg, 1991
 William Burroughs: um homem dentro, Yony Leyser, 2010
 Burroughs, Howard Brookner, 1983
 Burroughs, como Opium Jones, no filme Chappaqua, de Conrad Rooks, 1966
 
Coluna: Literatura
 

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