Nietzsche, a dinamite

por Isso Compensa

 por Matheus Arcaro

 

Friedrich Nietzsche, o sujeito, morreu em 25 de agosto de 1900, depois de praticamente 10 anos em estado vegetativo. Digo sujeito porque suas ideias – ou melhor, seus impulsos estéticos – estão vivíssimos e mostram-se essenciais para analisarmos a contemporaneidade.

Não quero me deter no que Nietzsche escreveu, mas naquilo que muitas pessoas fazem de sua obra. Vale lembrar que a primeira distorção ocorreu por parte de sua irmã que, após o colapso mental de Nietzsche, “arranjou” seus fragmentos póstumos de tal modo a aproximar Nietzsche de uma visão fascista e nacionalista.

 

 

Apesar de desfeito este mal-entendido na década de 60 do século XX, ainda hoje tem quem distorça seus pensamentos, sobretudo tomando Nietzsche como “salvador”, como “ídolo”, ou como “arauto da rebeldia”. A estas pessoas, trago três passagens.

 

Na primeira, constante em “Assim falou Zaratustra”, o pensador nos mostra que não se deve tomar feito religião os ensinamentos de quem quer que seja:

“Retribui-se mal um mestre, quando se permanece sempre e somente discípulo”.

 

Na segunda passagem, da obra “Ecce homo”, Nietzsche nos afirma que não pretende melhorar a humanidade e, ele mesmo, não deve ser tomado como um ídolo:

“Sou um discípulo de Dionísio, preferia ser sátiro a ser santo. […] A última coisa que eu prometeria seria ‘melhorar’ a humanidade. Eu não construo novos ídolos; os velhos que aprendam o que significa ter pés de barro. Derrubar ídolos (minha palavra para ideais) – este é o meu ofício.”

 

No terceiro excerto, também, de “Ecce homo”, Nietzsche prevê que seu nome será associado a algo grandioso (não necessariamente positivo):

“Conheço a minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo – de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, querido. Eu não sou um homem, sou dinamite.”

 

 

*As citações acima foram retiradas das edições da Companhia das Letras, ambas traduzidas por Paulo César de Souza.

 

Os livros (outras edições) estão disponíveis em PDF:

Assim Falava Zaratustra (AQUI)

Ecce Homo (AQUI)

Matheus Arcaro é mestrando em filosofia contemporânea pela UNICAMP. Pós-graduado em História da Arte. Graduado em Filosofia e em Comunicação Social. É professor, artista plástico e escritor, autor do romance “O lado imóvel do tempo” (Patuá, 2016) e do livro de contos “Violeta velha e outras flores” (Patuá, 2014). Está lançando Amortalha, livro de contos, também pela Patuá.

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