Ler brasileiros(as) para interpretar o Brasil: Jessé Souza

por Matheus Arcaro

Uma coluna sobre @s intelectual brasileir@s que pensaram e pensam as questões nacionais. 

Por Matheus Arcaro*

Jessé Souza (1960-)

Sociólogo, professor universitário e foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2015 e 2016. 

Suas principais obras são A Ralé Brasileira, A Classe Média no Espelho e A Elite do Atraso.

De acordo com o pensador, a partir da noção de patrimonialismo (sobretudo em Sérgio Buarque e Raimundo Faoro)criou-se a imagem no senso comum de que o Estado (a res pública) é, por natureza, corrupto. A ênfase dada na corrupção nos grandes veículos de comunicação tem o intuito de camuflar os problemas mais profundos do país, que são a manutenção de privilégios e a desigualdade social, frutos da escravidão.

Na verdade, a maior corrupção do Brasil é praticada pelo mercado financeiro, especulativo, que o tempo todo esfola o trabalhador. E este trabalhador, convencido de queo Estado é corrupto, clama por “menos Estado” e, sem ter consciência, clama por menos direitos.

Os conglomerados de comunicação são porta-vozes da elite financeira e, portanto, corresponsáveis pelo estado de alienação social.Para Souza, a classe média, que tem o sonho de ser elite, tende a ser reacionária porque teme ser identificada com a ralé. Ela é a porta-voz da elite, a ponte para que as ideias dominantes se espalhem e, inclusive, sejam introjetadas pela ralé.Tanto a elite, quanto a classe média têm em comum o ódio pelo pobre. Por isso, de modo geral, não aprova políticas afirmativas que tentam diminuir as desigualdades.

Jessé, obviamente, não justifica a corrupção. Apenas sinaliza que é preciso tocar na raiz dos problemas, ou seja, desconstruir os privilégios da elite, os 10% de brasileiros que detém a mesma renda dos outros 90%.

*Matheus Arcaro é mestre em filosofia contemporânea pela UNICAMP. Pós-graduado em História da Arte. Graduado em Filosofia e em Comunicação Social. É professor, artista plástico e escritor, autor do romance “O lado imóvel do tempo” (Patuá, 2016) e do livro de contos “Violeta velha e outras flores” (Patuá, 2014). Está lançando Amortalha, livro de contos, também pela Patuá.

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