Clapton vs Johnson: quando Deus encontra o Diabo

por Homero Nunes

por Wilson Zaidan

Dizem por aí: “Clapton is God” e “Johnson is the Devil”. Do pacto com o Diabo, Robert Johnson saiu com a genialidade do Blues, da homenagem de Eric Clapton a ele, saiu o encontro de Deus com o Diabo, no melhor da música de ambos.

Ao gravar – sem nenhum planejamento prévio, na espontaneidade da vontade – o álbum Me and Mr. Johnson (2004), à beira de sua conclusão, Clapton não satisfeito, pagou outro tributo ao pioneiro do blues, no DVD-CD Eric Clapton – Sessions for Robert Johnson, de forma elegante e categórica: relê alguns clássicos de Robert Johnson (inclusive algumas faixas que não estão no álbum Me and Mr. Johnson), ao vivo e a cores, com uma sonoridade crua e natural.

No Sessions for Robert J (2004), com um time de estrelas (quase a banda dos sonhos), Clapton divide as guitarras com Doyle Bramhall II (Roger Waters), conta com Nathan East (BB King, George Harrison, Elton John, Michael Jackson, etc.) no baixo, Steve Gadd (Paul McCartney, Frank Sinatra, Joe Cocker, etc.) na bateria, o britânico Chris Staiton (The Who, Joe Cocker, David Gilmour, etc.) no piano e o falecido Billy Preston – conhecido como o quinto Beatle – nos teclados.

Gravado em diferentes lugares, com sessões acústicas e plugadas, Clapton interpreta as obras de Robert Johnson em estúdio com a banda, em Londres; faz um duo acústico com Doyle Bramhall II em Dallas, na 508 Park Avenue, no quarto onde o próprio Robert Johnson gravou algumas de suas últimas músicas e termina com uma interpretação solo – violão e voz – em um quarto de hotel na Califórnia. De quebra, Eric Clapton fala sobre a influência que Robert Johnson teve em sua vida e música. A ironia é que quando Johnson vendeu a alma ao Diabo, em troca do talento nas cordas, definiu a trilha divina do Blues, ecoada pelo deus da Guitarra, Clapton. Deus e o diabo nos acordes profanos do blues.