Cadillac Records: a era dourada da música negra, no lado negro dos anos dourados

por Homero Nunes
por Wilson Zaidan
Anos 50, América. Do blues e do soul brotavam as raízes do rock, crescendo da música negra o cerne do estilo e da atitude que marcariam os anos dourados e todos os outros depois deles. A música que deu origem ao Rock n’ Roll, chorando as angústias da condição e celebrando as emoções da existência, misturada ao adubo do excesso entre sexo, drogas, idolatria e revolta. Cadillac Records é o filme que recortou a era dourada da música negra, na resistência ao lado negro dos anos dourados.
 
Baseado na história de Leonard Chess (Adrien Brody) – polonês, fundador da gravadora Chess Records – o filme Cadillac Records conta a história de como Chess abriu as portas para os negros no mercado da música americana em uma sedutora história narrada por ninguém menos que Willie Dixon (Cedric Kyles).  
 
Das plantações do Mississipi ao estrelato – cheio de Cadillacs – de Chicago, Muddy Waters (Jeffrey Wright) dá o pontapé inicial à turbulenta história da gravadora Chess Records, que deixa claro e límpido a contribuição dos forasteiros e imigrantes negros para a cultura country americana.

Além de Muddy Waters, grandes lendas da música negra americana passaram pela gravadora Chess Records, como Little Waters (Columbus Short), Howlin’ Wolf (Eamonn Walker), Chuck Berry (Mos Def) e Etta James interpretada categoricamente pela cantora Beyoncé – que diga-se de passagem, levou alguns prêmios pela sua atuação.
 
 
Essas incríveis jornadas retratam de forma autêntica os problemas com as drogas, as rivalidades (violentas) entre os músicos/egos, e os grandes problemas do racismo americano dos anos 50. Uma cena marcante é ver a incrível performance de Chuck Berry – com direito ao “duck-walk dance” na batida de No particular place to go – derrubando, literalmente, uma barreira entre brancos e negros. Uma cena emocionante. Infelizmente o filme mostra que todo esse talento não foi o suficiente e não demorou muito para “branquelos” como “os magricelas da Inglaterra” (sim, The Rolling Stones) – palavras do próprio filme – e Elvis Presley tomarem com facilidade o reinado momentâneo dos negros, graças ao apoio da mídia tradicional americana. Difícil compreender tal racismo, talvez pelo inglês errado e/ou pelo sotaque carregado (que é um toque especial do filme). Talvez pela competência intimidadora dos negros. Ou racismo idiota.
Sempre compensa entender um pouco da base desse nosso grande amor que é o Rock n’ Roll, e pelo menos tentar compreender – em seus contextos históricos-políticos-econômicos – os problemas de violência, drogas, segregação social e revolta que inspiraram a arte do blues.
 
Cadillac Records, Darnell Martin, 2008
 

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