Fahrenheit 451 (1966) é primeiro filme colorido da carreira de Truffaut e o único falado em língua inglesa. Adaptado do romance homônimo de Ray Bradbury, o longa-metragem é uma veemente crítica ao abuso do poder e à alienação promovida pelos meios de comunicação de massa.
De certo modo, guarda semelhanças com obras distópicas, como “Admirável Mundo Novo” de de Aldous Huxley (1932) e “1984” de George Orwell(1948): numa sociedade futurista, os que possuem livros são vistos como criminosos. E cabe aos bombeiros queimar publicamente todos os livros encontrados.
A possiblidade de se expressar, aos poucos, vai sendo suprimida e opiniões críticas são consideradas contrárias à ordem social. Qualquer pessoa flagrada lendo é confinada ao hospício. Os livros são apreendidos e carbonizados pelos “bombeiros”. O título faz alusão à temperatura (em graus Fahrenheit) da queima do papel.
No final das contas, o que Truffaut nos mostra é que uma sociedade sem livros comporta seres autômatos, desprovidos de personalidade e senso crítico. Mas não apenas, já que o desfecho do filme traz poeticidade ao fazer uma ode à memória e, principalmente, à transmissão oral do conhecimento.
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Matheus Arcaro é mestrando em filosofia contemporânea pela Unicamp. Pós-graduado em História da Arte. Graduado em Filosofia e também em Comunicação Social. É professor, artista plástico, palestrante e escritor, autor do romance O lado imóvel do tempo (Ed. Patuá, 2016) e dos livros de contos Violeta velha e outras flores (Ed. Patuá, 2014) e Amortalha (Ed. Patuá, 2017).
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