René Magritte, Os Amantes, 1928

por Homero Nunes
O beijo dos amantes envoltos no tecido das relações sociais mais íntimas. Algo dúbio na obviedade da cena: eles escondem seus rostos um do outro, dos outros ou de si mesmos?  Pode-se enxergar muito pouco de alguém quando se está envolto na relação. Dizem que só conhecemos a pessoa quando tudo acaba. De qualquer forma, não se pode mostrar tudo ao outro, nem mesmo na intimidade, carnal ou abstrata. Embora no egoísmo intrínseco o outro seja, em grande medida nas relações humanas, uma projeção da própria satisfação ou desejo. Talvez não importe o que o outro é ou o que se possa ver dele, enquanto eu mesmo esteja escondido na profundidade por detrás das aparências.


Magritte garante o deslocamento do olhar com uma cena ao mesmo tempo estranha e intrigante. Traços perfeitos, perspectiva matemática, cores carregadas. Aliás, a perspectiva da cena é garantida pelas linhas da parede e do teto, com friso. O fundo cinza é neutro, mas marcante, carregado, o que destaca a cena do beijo. O amor é cego ou não enxerga pelas cortinas das relações?


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