por Homero Nunes
Em 17 de agosto de 1945, George Orwell lançava o livro Animal Farm. Escrito durante a Segunda Guerra Mundial, da qual tomou parte como correspondente da BBC, A Revolução dos Bichos é uma sátira e uma crítica contundente sobre como as coisas funcionam quando alguns grupos revolucionários chegam ao poder. Porcos, cães, ovelhas, galinhas e o velho cavalo puxador de carroça são os personagens-metáforas que figuram a história por trás da história. Animalismo. Pequeno, de linguagem fácil e acessível, com tiradas de humor e estocadas críticas, cheio de frases de efeito, o livro é um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos, um dos mais vendidos, dos mais lembrados nas listas dos melhores do século XX.
Como uma paródia da Revolução Russa e seus personagens, assim como do regime stalinista e seus excessos, Orwell nos conta a história de uma fazenda cujos animais se rebelam contra a opressão do dono e tentam implantar o Animalismo, um regime igualitário e socialmente mais justo. A utopia de uma sociedade perfeita. Deu errado, pela corrupção e pela febre de poder, sem mais spoilers.
O velho Major barbudo cheio de ideias como Marx, cheio de ordens como Lênin, o intelectual Bola de Neve em devaneios como Trotsky, o truculento Napoleão violento como Stalin, todos porcos, a vanguarda revolucionária. Os cães militares. O resto dos animais como o resto do povo. Destaque para o burro trabalhador, alienado, como o trabalhador burro.
Um livro de literatura sobre a história do século XX, muito atual. Como amostra, segue abaixo uma seleção de frases dos animais de George Orwell, Ipsis Litteris:
Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.
Quatro patas bom, duas patas ruim.
Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é o inimigo.
Moinho ou não moinho, dizia ele, a vida seguiria como sempre – ou seja, mal.
Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta.
O trabalho é estritamente voluntário, mas qualquer animal que se abstenha dele terá sua ração cortada pela metade.
Os burros têm vida longa. Nenhum de vocês ainda viu um burro morto.
O homem é a única criatura que consome sem produzir.
Os homens não servem aos interesses de nenhuma criatura exceto aos seus próprios.
A marca distintiva do Homem é a mão, instrumento com o qual faz todo o mal.
Muitos teriam protestado, se tivessem encontrado os argumentos corretos.
O homem é o único verdadeiro inimigo que temos. Retirando o Homem da cena, a causa principal da fome e do excesso de trabalho desaparecerá para sempre.
Lembrai-vos também que na luta contra o homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios.
Os bichos tinham como certo que as frutas deveriam ser distribuídas equitativamente; certo dia, porém, chegou a ordem para que todas as frutas caídas fossem recolhidas e levadas ao depósito das ferramentas, para consumo dos porcos. Alguns bichos murmuraram a respeito, mas foi inútil. Os porcos estavam todos de acordo sobre esse ponto. Nosso único objetivo ao ingerir essas coisas é preservar nossa saúde. O leite e a maçã (está provado pela Ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós, os porcos, somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção desta granja repousam sobre nós. Dia e noite velamos por vosso bem-estar. É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs.
Ah, mas isso é diferente. Se o camarada Napoleão diz, deve ser o certo, então.
Já naquela altura, depois de tanto abuso, era impossível distinguir o homem do porco.
Baixe o livro em:
O cinema fez duas boas adaptações de Animal Farm:
1) uma animação de 1954

2) uma filmagem daquelas que os bichos falam e interagem, de 1999

Coluna: Ipsis Litteris
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