Michael Moore, um chato fundamental em documentários incorretamente obrigatórios

por Homero Nunes
É fundamental, no mundo, um cara como Michael Moore. Um chato fundamental. Uma figurinha ridícula – gordo, de um metro e noventa, de boné, óculos e barba rala – mas essencial. Não é nenhum intelectual ou acadêmico pedante, apenas um incômodo e crítico cineasta documentarista, uma espécie de ombudsman, contestador do sistema dentro do próprio.
Michael Moore costuma usar muito humor e ironia para desmascarar a hipocrisia dos que comandam o seu país (EUA) e os poderosos do mundo. É um tipo meio suicida, quase um radical, que sai perseguindo políticos e personagens do establishment com sua câmera na mão e perguntas desconcertantes na cabeça. Articulando imagens de arquivo, da mídia, de discursos políticos e de suas capturas, Moore monta sua teoria da conspiração de forma sarcástica e debochada, colocando suas vítimas ora como hipócritas demagogos, ora como verdadeiros idiotas.

É atacado por combater as grandes corporações e criticar o capitalismo, enquanto contraditoriamente promove seus filmes com o marketing da polêmica e fatura milhões na indústria cinematográfica. Também não faltam ataques à sua postura ética, ou melhor, à sua falta de ética: o cineasta não economiza meios para atingir seus objetivos, ou alvos, mostrando imagens politicamente incorretas e enviesando seu ponto de vista de forma implacável. Ele edita falas, cita fora do contexto, monta seqüências contraditórias, enfim, usa muito sensacionalismo midiático e investe ferozmente contra o sistema, lançando críticas no ventilador e atirando ironias para todo lado. Contudo, não importa se ele ganha milhões com sua postura impugnante, e sim o que ele consegue falar, trazer à tona, com os produtos que geram estes milhões. Se tudo é marketing, capitalismo, indústria, nada melhor que usar isso tudo contra isso mesmo.
Michael Moore é um cineasta politicamente incorreto e incorretamente obrigatório.

De Michael Moore compensa:
Tiros em Columbine (Bowling for Columbine, 2002)
Fahrenheit 11 de Setembro (Fahrenheit 9/11, 2004)
SOS Saúde (Sicko, 2007)
Capitalismo: uma História de Amor (Capitalism: a Love Story, 2009)


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