Bibliopop! Em queda com Diogo Mainardi

por Homero Nunes

Bibliopop!

por Viviane Loyola
Li A Queda, do Diogo Mainardi, descobri humanidade nele, me emocionei. Até mesmo os asnos políticos e os esnobes de berço carregam em si algo de humano ou o que se chama amor. Pena que, para uns, o amor seja natural e para o Mainardi seja admirável, até para ele mesmo que confessa achar que não fosse capaz. No livro ele descreve em 424 tópicos, numerados e sequenciados, a trajetória de seu filho Tito, que tem paralisia cerebral. Com precisão cirúrgica somos levados a conhecer sua história desde o nascimento traumático, em que ocorreu erro médico e a criança ficou sem respirar, o que ocasionou o problema, até o Tito adolescente, que se empenha para dar seus passos. São 424 passos ao todo, ou seja, os 424 tópicos do livro remetem-se ao número de passos que Tito conseguiu dar até os dias de hoje.


Mainardi propõe uma associação interessante entre o desenrolar da história pessoal do filho e curiosidades e acontecimentos históricos. Ele menciona, por exemplo, o fato de Hitler ordenar a morte de crianças com paralisia cerebral, o que seria a morte de Tito. Ilustra com fotos da fachada do hospital em que Tito nasceu o contraste existente entre a vida e a morte. Tito nasceu em Veneza, em um belo prédio de época, uma obra de arte por si só. A arte está viva naquele lugar, mas foi lá que Tito quase morreu. Mostrando eruditismo, e trabalho apurado de pesquisa que visou associar datas e fatos à caminhada de seu filho, Mainardi evidencia sua ligação com Tito, a paternidade como um elemento de descoberta e de mudança interior. Contribui, sobretudo, ao tratar a paralisia cerebral com extrema naturalidade e ao demonstrar pelo filho uma dedicação ferrenha, que emociona sem despejar lágrimas.     

 Tito (2000) e Diogo Mainardi (1962) 

Por vezes, entretanto, o livro parece muito esquemático, forçado, talvez pela vergonha que o próprio Mainardi assume de demonstrar certas emoções e pelo formato numérico por ele adotado. Ele fala que chorou, mas não somos capazes de vê-lo chorando.  Penso que ele também não gostaria. Ele se mostra até certo ponto, se expõe como nunca se expôs, mas ainda assim não deixa de ser Mainardi. Conserva a fleuma, a ironia, o distanciamento. Ele balança mas não cai, não se joga. Com medo de parecer piegas, talvez tenha perdido a oportunidade de sê-lo.

A Queda
Diogo Mainardi
Editora Record
2012
152 págs.

Leia a coluna Bibliopop em: Isso Compensa – Literatura



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