Ipsis Litteris Shakespeare: o bardo por ele mesmo

por Rodrigo Morais Leite
Uma seleção de frases capitais da dramaturgia de William Shakespeare…
Essas “pérolas”, recolhidas e editadas por Sérgio Faraco no volume intitulado Shakespeare de A a Z (L&PM, 139 páginas), são a prova definitiva do enorme talento aforístico do escritor inglês. Algumas delas, já surradas de tanto que foram citadas, chegam até a passar por ditos populares. Não à toa, Millôr Fernandes, um dos melhores tradutores da obra shakespeariana para o português, compôs certa vez um versinho que dizia: “Sheikispir sim, é que era bão: / só escrevia citação!”
Dois Cavalheiros de Verona, por Alfred Elmore, 1857
“Amar é comprar escárnio à custa de gemidos.” (Os Dois Cavalheiros de Verona)
 
“O verdadeiro amor quase não fala; melhor se adorna com fatos e ações a verdadeira fé, não com palavras.” (Os Dois Cavalheiros de Verona)
 
“Nisto (…) é que consiste a monstruosidade do amor: em ser infinita a vontade e limitada a execução; em serem ilimitados os desejos e o ato, escravo do limite.” (Tróilo e Cressida)
 
“O céu é testemunha.” (Otelo)
 
“As ninharias leves como o ar, para quem tem ciúmes, são verdades tão firmes como trechos da Sagrada Escritura.” (Otelo)
 
“Os ciumentos não precisam de causa para o ciúme: têm ciúme, nada mais. O ciúme é monstro que se gera em si mesmo e de si nasce.” (Otelo)
 
“Consciência é uma palavra que os covardes empregam, inventada para infundir temor nos homens fortes.” (Ricardo III)
 
“Não me aconselhes. Minhas desgraças gritam mais alto do que o teu fraseado.” (Muito Barulho por Nada)
 
“O que para os meninos são as moscas, somos nós para os deuses: matam-nos brincando.” (Rei Lear)
 
“Há algo de podre no reino da Dinamarca.” (Hamlet)
“O dinheiro é um bom soldado: avança sempre.” (As Alegres Comadres de Windsor)
Rosalinda e Célia, por Daniel Maclise, 1845 – de Como Gostais
“Como é amargo contemplar a felicidade através dos olhos dos outros.” (Como Gostais)
 
“Há mais coisas entre o céu e a terra (…) do que sonha nossa vã filosofia.” (Hamlet)
 
“Hábito, esse demônio que devora todos os sentimentos…” (Hamlet)
 
“Quem não sabe mandar deve aprender a ser mandado.” (Henrique VI)
 
“Os defeitos dos homens são gravados no bronze, as boas qualidades escrevemo-las na água.” (Henrique VIII)
 
“Se fosseis tratar todas as pessoas de acordo com o merecimento de cada uma, quem escaparia da chibata?” (Hamlet)
 
“A modéstia dignifica o nome de alcoviteiro, como confere a muitas marafonas a fama de castidade.” (Péricles)
 
“O hábito não faz o monge.” (Henrique VIII)
 
Claudio e Isabella, por Willian H. Hunt, 1850 – de Medida por Medida
“A dor da morte existe só na imaginação; o pobre inseto que esmagamos ao passar, sofre tanto no corpo como o mais alto gigante no transe da agonia.” (Medida por Medida)
 
“A imagem da morte dever ser como um espelho que nos ensina ser a vida apenas um sopro passageiro.” (Péricles)
 
“Aquilo que muitos homens não alcançam com os recursos da oratória, consegue facilmente a bondade feminina.” (Henrique VI)
 
“A mulher irritada é uma fonte turva, enlameada, desagradável de aspecto, ausente de beleza. E enquanto está assim não há ninguém, por mais seco e sedento, que toque os lábios nela, que lhe beba uma gota.” (A Megera Domada)
 
“A honestidade nas mulheres, de par com a beleza, vem a ser mel servindo de molho para o açúcar.” (Como Gostais)
 
“A mulher que não sabe pôr a culpa no marido por suas próprias faltas, não deve amamentar o filho, na certeza de criar um palerma.” (Como Gostais)
 
“Leviandade, teu nome é mulher!” (Hamlet)
 
“Não há pendor para o vício que na mulher não tenha origem.” (Cimbelino)
 
“Acaso existe no mundo algum autor que, como os olhos da mulher, nos ensine o que é beleza?” (Trabalhos de Amor Perdidos)
 
Shyloc, por Charles A. Buchel, 1906 – de O Mercador de Veneza
“Nem tudo que reluz é ouro.” (O Mercador de Veneza)
 
“Onde o prazer se exalta a dor se encolhe.” (Hamlet)
 
“Se a balança de nossa vida não dispusesse de um prato de razão para contrabalançar o da sensualidade, o sangue e a baixeza de nossa natureza nos conduziriam às mais absurdas situações.” (Otelo)
 
“O que não tem remédio remediado está.” (Otelo)
 
“Somos feitos da matéria dos sonhos; e esta vida encerra-se num sono.” (A Tempestade)
 
“O arco do tolo dispara depressa.” (Henrique V)
 
“Nunca damos muito apreço a nada do que temos; mas, se acaso nos vem a faltar algo que tivemos, exageramos o valor e percebemos a virtude que nos fora ocultada pela posse.” (Muito Barulho por Nada)
“A vida é uma sombra que passa, um pobre ator que se agita um instante no palco e, depois, nunca mais se ouve falar dele. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, nada significando.” (Macbeth)
 
Macbeth, Banquo e as Bruxas, por Henry Fuseli, 1794
 
Compensa:
FARACO, Sérgio (org.). Shakespeare de A a Z. Porto Alegre: L&PM. 139 págs.
 
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