Lançamento da Netflix, a minissérie espanhola O Inocente está entre os dez títulos mais assistidos no Brasil. É um sucesso de público. Devemos nos inspirar por esses rankings para escolher o que assistimos? Você segue listas dos mais lidos ou dos mais vistos? Assisti aos oito episódios de O Inocente em um fim de semana e fiquei me perguntando os motivos pelos quais fui capturada pela história e as razões de tanta gente gostar do gênero. Qual a fórmula de sucesso de uma série em tempos de tanta concorrência no audiovisual?
Para obter êxito, tantas vezes não basta um bom roteiro ou bons atores. Tem todo um contexto relacionado ao sucesso ou fracasso das produções. Em O Inocente, o formato chama atenção. Não há confirmação sobre uma segunda temporada. Em princípio, o projeto foi idealizado para ser uma minissérie, o que significa que ao final de alguns episódios temos o desfecho da história. Não são muitos episódios e são muitos os mistérios. Cada vez mais os serviços de Streaming têm investindo em formatos curtos, com muita coisa acontecendo em pouco tempo, dando ritmo frenético aos episódios. Às vezes fica uma ponta solta e não entendemos algo. A pressa pode prejudicar o desenrolar da história, mas não foi essa a sensação tive em O Inocente.
A minissérie nos apresenta uma trama complexa, muitos personagens, muitos flashbacks, e ainda assim é possível acompanhar e entender tudo que se passa. Uma das razões do sucesso está no formato curto e na narrativa ágil sem que se pareça a um filme de ação. Há cenas de perseguição de carros, tiroteios, fugas, mas também lembranças, diálogos e momentos intimistas, além de elementos que nos ajudam a traçar um perfil psicológico dos personagens. A fusão entre ação, romance, mistério, vingança e redenção é um dos trunfos da minissérie. Cada vez mais a capacidade de provocar sensações diversas no público, e atender a pessoas com necessidades diferentes, por exemplo quem gosta mais de ação ou quem curte um romance, tem sido determinante para o estouro comercial de uma série.
Outra característica marcante em O Inocente é a aposta na adaptação de um sucesso literário. No caso, uma adaptação de um livro homônimo de Harlan Coben, escritor norte-americano. A trama acompanha a vida do personagem Mateo Vidal, um jovem que se envolve em uma briga de bar e acaba empurrando um homem que bate a cabeça em uma pedra e morre. É uma fórmula consagrada de sucesso – iniciar a história com um crime cometido pelo personagem principal. Não temos o enigma de quem matou, mas queremos saber o que vai acontecer a Mateo e como esse fato impactará seu futuro. Muitos roteiros adaptados fracassam, mas permanecem sendo uma aposta mais segura e recorrente nos dias de hoje.
Quando vi a minissérie no cardápio da Netflix, mesmo antes de ler qualquer crítica, me interessei também por ser um suspense espanhol. Definitivamente o sucesso de La Casa de Papel habita nosso imaginário e, desde o seu lançamento, cada vez mais séries espanholas vêm se destacando na Netflix, quase todas focadas em histórias envolvendo crimes, mistério e investigação. Na onda das tendências, além dos formatos curtos e das histórias de suspense, a Netflix vem dando espaço e consolidando uma tradição audiovisual de cada país. Nesse momento, as séries espanholas estão em alta e muito identificadas com um determinado perfil temático. Para muita gente, saber que a série é espanhola causa curiosidade em função do sucesso de séries anteriores produzidas. Além do mais, em O Inocente, o trabalho dos atores contribui para a ambiguidade dos personagens, todo mundo pode ser vilão ou mocinho, reforçando a safra de bons atores espanhóis.
A ideia de acompanhar uma minissérie focada na vida de alguém que cometeu um crime, e de personagens misteriosos que gravitam em torno dele, não deixa de ser um regozijo para os apaixonados por histórias de crimes. A minissérie O Inocente cumpre esse papel de possibilitar uma imersão em um suspense policial para um público fiel ao gênero. Pensando assim, não tem nada de muito diferente porque vários outros produtos, incluindo La Casa de Papel, exploraram esse mesmo filão e cumpriram essa mesma missão até com mais eficiência. O sucesso não é pela minissérie ser excepcional. É por repercutir a tendência dos formatos curtos, apresentar uma fusão entre ação e drama psicológico, se aproveitar da boa fama das séries espanholas e da necessidade de escapismo social do público. Além disso, é novidade no cardápio da Netflix e andamos sedentos por experiências novas o tempo todo. Essa é uma característica do consumidor digital sempre atrás do lançamento da semana. A minissérie vale a pena, mas certamente sairá do ranking nas próximas semanas. Não chega a ser uma La Casa de Papel, mas diverte muito. Já não é pouca coisa.
Séries que compensam, por Viviane Loyola
Comentários
Compartilhe
Posts relacionados
- True Crime: o sucesso do gênero em Elize Matsunaga e O caso Evandro 3.ago
- O Inocente: minissérie espanhola nos tops da Netflix 19.maio
- Killing Eve: uma série contrária aos estereótipos de gênero 23.abr
- Lupin: inspiração na literatura para diversão em série 7.abr
- Borgen: para quem aprecia boas séries políticas 22.mar