Lupin: inspiração na literatura para diversão em série

por Viviane Loyola

A sociedade digital é excessiva. Somos bombardeados diariamente com um número enorme de notícias e muito tem sido dito a respeito do cansaço gerado por essas interações cotidianas. Além do mais, em tempos pandêmicos, convivemos com notícias preocupantes e desalentadoras que nos provocam, no movimento contrário, a busca por conteúdos que possam nos desestressar, trazendo humor, mistério, romance. Conteúdos que não nos exijam muito, nos provoque o riso, nos desperte a vontade de seguir assistindo. Nada contra conteúdos mais densos, mas nunca estivemos tão necessitados de leveza, um contraponto à dura realidade.    

Nesse cenário, filmes e séries de crimes, que sempre tiveram um público cativo, têm ganhado ainda mais destaque na mídia, tornando-se sucessos instantâneos de audiência.  Principalmente aquelas séries em que o criminoso é um personagem carismático, engenhoso, engraçado, não necessariamente cruel, que consegue realizar os crimes mais mirabolantes sem ser capturado. Passamos a torcer pelo criminoso, esquecemos por algumas horas dos problemas cotidianos para nos envolvermos com a história, tentando entender as artimanhas do crime, admirando a destreza dos foras da lei.

Isso talvez explique o sucesso mundial da série francesa Lupin, em cartaz na Netflix, estrelado por Omar Sy, mais conhecido do público por seu papel no filme Os Intocáveis. Agora Omar Sy acrescenta ao seu currículo mais um personagem memorável:  Arséne Lupin. Criado pelo escritor Maurice Leblanc no início do século XX, conhecido como um ladrão muito esperto, craque em disfarces, o personagem Lupin ganha ares atuais e cosmopolitas na adaptação para o audiovisual – o criminoso abandona a cachola e o binóculo e se torna um típico cidadão parisiense do século XXI. O personagem de Omar se torna uma espécie de Lupin moderno ao copiar as estratégias do criminoso dos livros.  

A premissa da série é simples, fácil de acompanhar. Tudo gira em torno de um acerto de contas. O personagem principal é Assane Diop (o Lupin moderno), imigrante senegalês que, na juventude, viu o pai de origem humilde, motorista particular, ser preso pelo roubo de uma jóia valiosa. O filho, que tem certeza da inocência do pai, se apega ao último presente que recebeu dele, justamente um romance de Arséne Lupin. O livro se torna uma motivação, uma fonte de inspiração para o jovem se vingar dos ex-patrõesmilionários, daqueles que acusaram seu pai de roubo no passado.

Para conseguir sua vingança, Assione Diop (Lupin) não poupa esforços e o que vemos é uma sucessão de situações que nos prendem atenção, como assaltos improváveis, falsificações e fugas espetaculares. Embora a série tenha como pano de fundo uma discussão sobre o elitismo da sociedade francesa, mostrando personagens ricos e brancos se dando bem, explorando a boa fé de seus empregados imigrantes, se aproveitando de sua condição de poder, não se trata de um drama social. O foco está na ação e, por isso mesmo, a série parece cumprir sua missão despretensiosa de divertir o público.

Com um protagonista que nos faz lembrar Robin Hood, ficamos grudados na história quase o tempo todo, exceção aos antepenúltimo e penúltimo episódios, em que a série perde um pouco de seu ritmo frenético. Justamente quando a ação cai, explorando mais a vida pessoal de Assane e abusando de flashbacks, a série se descaracteriza naquilo que oferece de melhor. Apesar dessa queda, até certo ponto comum nas séries, vale a pena assistir aos cinco episódios da primeira temporada de Lupin, em um formato de menos episódios por temporada que vem sendo testada pela Netflix e agradado aos críticos. A série termina de um jeito misterioso, um gancho final que nos deixa ansiosos pela segunda temporada que a Netflix anunciou deve estrear esse ano ainda. Que venha mais diversão. Estamos precisando disso.  

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