As malvadas: meia dúzia das piores mulheres da história

por Homero Nunes

por Homero Nunes

Maria Callas, como a Medeia do filme de Pier Paolo Pasolini, 1969
Medeia
431 a.C. (Eurípides)
Cólquida, Cáucaso
Impulsiva, vingativa, ardilosa, infanticida.
Protótipo da ex-mulher entre o amor e o ódio, daquelas que viram monstro quando abandonada, Medeia foi personagem da mitologia grega, atuando também na tragédia de Eurípides. Filha do rei, apaixonada por Jasão, ela abandona tudo para seguir o amor ao herói. Completamente apaixonada, abre mão de si mesma, dedica-se de corpo e alma ao seu homem, sacrifica-se em nome do amor, produz com ele lindos filhos, tudo isso na esperança e na ilusão da felicidade prolongada até o fim da vida. Mas Jasão era homem fraco e carnal, sob o domínio de suas pulsões. Encantado pelo poder e por uma princesa mais jovem e mais bonita, Jasão abandona Medeia, ameaçando tirar-lhe os filhos. Ela, traída e humilhada, prepara a vingança fria e amarga: manda os próprios filhos levarem um presente envenenado à rival, que morre deixando Jasão arrasado. Não valesse o gostinho de matar a outra, Medeia ainda daria o golpe final, na mais cruel vingança, em tirar de Jasão a descendência, apunhalando, ela mesma, os próprios filhos. Deixa-o vivo na tragédia de sua mísera existência, sozinho, sem os filhos e sem ninguém, e some de vista, voando entre serpentes nos pesadelos de Jasão.
Maria Félix, como a Messalina do filme de Carmine Gallone, 1951
Valeria Messalina
17 – 48 d.C.
Roma
Inescrupulosa, manipuladora, ambiciosa, promíscua e linda.
Passou à história como uma mulher tarada que traía o marido, o Imperador Cláudio Augusto, compulsivamente. A historicamente difamada Messalina teria chegado a competir com uma prostituta em número de amantes e relações em uma só noite. Deve ter ganhado. Tinha grande influência sobre o maridão imperador, que lhe fazia todas as vontades, mas acabou por ministrar uma conspiração para derrubá-lo, com vistas a colocar um dos amantes no poder. Foi descoberta e executada. Seu nome se tornou xingamento: se a pior ofensa a um homem é chamá-lo de filho da p*, a uma mulher é chamá-la de Messalina.
Anna friel, no filme Bathory, de Juraj Jakubisko, 2008
Erzsébet Báthory
1560 – 1614
Hungria (nascida em uma região da atual Eslováquia)
Cruel, sanguinária, perversa, do mal e linda.
Recebeu a alcunha de “condessa de sangue” ou “condessa Drácula” por sua obsessão em banhar-se com sangue de jovens moças em busca da eterna juventude. Para conseguir seu macabro cosmético, a condessa executou centenas de meninas, tornando-se a número um no ranking dos serial killers, contabilizando mais de 600 mortes nas costas. Mas este número não se refere somente às jovens que lhe serviam de matéria prima, ela também torturava a matava os serviçais, as amas, os empregados do marido e qualquer um que caísse em suas garras. Achava que estava imune à justiça, mas foi presa e condenada à perpétua. Após a morte entrou para a coleção de lendas vampirescas da Hungria e da Transilvânia.
Ranavalona I
Ranavalona I
1782 – 1861
Madagascar
Tirana, paranoica, preconceituosa, perversa, fria e cruel.
Não há provas, negou até o fim, mas certamente estava envolvida na morte do marido, o rei Radama, por envenenamento. Rainha absoluta, a “viúva negra” quebrou todos os acordos com outras nações, expulsou os estrangeiros, confiscou propriedades, proibiu tudo que tinha a ver com os europeus: língua, costumes, religião. Os cristãos passaram a ser perseguidos e executados, com extremos requintes de crueldade. A tortura passava por crucificações públicas, alimentos vivos para cães famintos, queimaduras com óleo fervente, jaulas de fome etc.. Ficou no poder por mais de trinta anos, período no qual escravizou, prendeu, torturou e matou mais de um milhão de súditos.
Irma Grese
Irma Grese
1923 – 1945
Alemanha
Sangue-frio, sádica, perversa, coisa-ruim.
Hitler, Josef Mengele e o Demônio tinham orgulho da criatura. Parte da juventude hitlerista, entusiasta da SS, seguidora fanática do regime nazista, Irma Grese serviu nos piores campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo Auschwitz, o inferno na Terra. Especializou-se nas mais terríveis e criativas formas de tortura e assassinato. Divertia-se aos montes com o sofrimento de suas vítimas, prolongando pelo tempo máximo o martírio dos infelizes que caíam em suas mãos, a maioria escolhida a dedo por ela, sem deixar escapar as crianças. Seu sadismo incluía abusos sexuais, mutilações, uso de cães famintos, torturas de filhos diante das mães e das mães diante dos filhos, assassinatos sumários com tiros ou pancadas na cabeça. Fazia questão de acompanhar as mortes por asfixia nas câmaras de gás. Quando os campos de extermínio foram estourados no final da guerra, há relatos intrigantes sobre os achados macabros em seus aposentos: dentre artefatos e instrumentos, também uma luminária feita com pele humana. Presa, foi julgada e condenada à morte por enforcamento.
Dona Adelina inspirou a Mrs. Danvers, do filme Rebecca, de Hitchcock, 1940

Dona Adelina, ali da esquina

Idade desconhecida
Minas Gerais
Fofoqueira, intrigueira, invejosa, sem noção, bigoduda e esquisita.
Depois que perdeu o marido (dizem que ele preferiu a morte) e os filhos foram embora, fugidos, a mal amada dedica todo o seu tempo a saber, exagerar e divulgar os podres alheios. Pensa que seu ofício é algo entre a imprensa denunciativa e as colunas sociais depreciativas, quando, na verdade, é a oficina do diabo que funciona em algumas mentes ociosas. Maldosa e sem escrúpulos, Dona Adelina vive a causar estragos nas vidas alheias – expondo aquilo que as pessoas lutam para esconder – por pura diversão, uma vez que não ganha nada com isso além de matar o tempo. Síntese das mal amadas de plantão, Dona Adelina, ali da esquina, é alguém que todo mundo trata bem, não por consideração, mas por precaução, medo da língua venenosa que não perdoa ninguém. É preciso que exista o inferno.


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