Adeus mundo cruel! Meia dúzia de suicidas ilustres de um dicionário solene e macabro

por Homero Nunes
A ideia do suicídio é uma grande consolação: 
ajuda a suportar muitas noites más.
Nietzsche
Cobain, Kurt (1967-1994)
“Músico grunge pop, guitarrista e vocalista da banda norte-americana Nirvana de rock n’ roll. (…) No dia 5 de abril de 1994, aos 27 anos, trancou-se no apartamento dos fundos de sua mansão, colocou o cano de uma espingarda na boca e puxou o gatilho. (…) Em bilhete suicida endereçado à esposa e à filha, que dizia amar, afirmou não suportar mais o peso da fama...”
Chamfort, Sebastien Roch Nicolas (1740-1794)
“Escritor, moralista e revolucionário francês. (…) De espírito irônico, amargo e boêmio, desencantado com os rumos da revolução e horrorizado com os excessos revolucionários, passou a aumentar seus ataques aos jacobinos e, ameaçado de prisão, ele, um dos homens mais espirituosos de seu tempo, tentou o suicídio de modo pungente: deu um tiro na têmpora. Porém, tendo sobrevivido, perdeu um olho. Desesperado e com dores lancinantes, apanhou uma navalha e cortou a garganta. Resistiu a mais esta tentativa infrutífera e cortou o peito em ‘X’. Sobreviveu ainda e, coberto de infecções e em sofrimentos atrozes, só veio a morrer dias depois.”
Hemingway, Ernest (1898-1961)
“Escritor (…) Em 18 de abril confessou a A. E. Hotchner pelo telefone: Hotch, não consigo terminar o livro. Não posso. Passei o dia na merda da escravaninha e tudo que consegui é uma frase, talvez mais, não sei e não consigo. Nada, entende, nada. A 23 de abril, tentou pela primeira vez tirar a própria vida colocando uma espingarda na cabeça. (…) Soube-se depois que houve cinco tentativas frustradas de suicídio. Numa delas, tentou se jogar nas hélices de um avião. Afinal, matou-se na fazenda de Ketchum, Idaho, dando um tiro de espingarda na boca, puxando o gatilho com os pés.”
“O pai (1928) e a irmã mataram-se antes dele. Depois o irmão, já em 1982. Em fins de junho de 1996, a sobrinha e atriz Margaux Hemingway (1947-1996) morreu misteriosamente aos 49 anos também por suicídio, ingerindo grandes doses de barbitúrico.”

Tchaikovski, Piotr (1840-1893)

“Compositor e regente russo. (…) Aos 53 anos, uma aura de mistério envolveu a sua morte: a história que circulou na época foi que se suicidara bebendo propositalmente um copo d’água não fervida durante a epidemia de cólera que varria a cidade. Acadêmicos da segunda metade do século XX, contudo, têm apontado outra versão para sua morte: após ser acusado de envolvimento romântico-sexual com um membro masculino da família imperial, para evitar escândalos, fora induzido a cometer suicídio (por envenenamento). De qualquer forma, rumores logo deram como motivo do suicídio o fracasso de sua última sinfonia, cujo próprio título, Pathétique, já mostrava seu lastimável estado de espírito.”

 
Benjamin, Walter (1892-1940)
“Filósofo e ensaísta alemão (…) Perturbado com a expansão do nazismo, perseguido pela Gestapo e imaginando poder alcançar a Suíça, refugiou-se com um grupo de intelectuais alemães na cidadezinha de Port-Bou, na fronteira franco-espanhola. Na noite de 26 de setembro de 1940, detido pela polícia aduaneira espanhola, que esperava receber alguma propina, teve negada a entrada no país. Atemorizado, o filósofo voltou ao pequeno hotel onde se hospedara e se suicidou por envenenamento, ingerindo grandes quantidades de morfina. Ao saber de seu suicídio, Bertolt Brecht (1898-1956) murmurou: O nazismo fez sua primeira vitima na literatura alemã.”

Van Gogh, Vincent (1853-1890)
“Pintor pós-impressionista holandês (…) Paupérrimo, vendo-se frustrado e recebendo apoio tutelar do irmão, Theo, apaixonou-se por uma prostituta e, em 1888, ao ser abandonado e após discussões estéticas com Paul Gauguin (1848-1903), cortou a orelha direita. (…) No dia 27 de julho de 1890, durante uma crise de loucura e desespero, apanhou um revólver e atirou no próprio peito, morrendo dois dias depois sob os cuidados do amigo e irmão, Theo. Antes de expirar, procurou justificar-se: Queria ir-me embora. Tendo vivido uma existência miserável, jamais conseguiu vender um quadro seu (…) Apercebendo-se da ironia e da injustiça cometida para com o atormentado artista de Auvers, Antonin Artaud (1896-1948) escreveu: Van Gogh, o suicidado da sociedade.”



No Dicionário de Suicidas Ilustres estão ainda Gilles Deleuze, Alberto Santos Dumont, Sócrates, Aristóteles, Maiakovski, Hitler, Antígona, Emma Bovary, Judas Iscariotes, Getúlio Vargas, Gogol, Lady Macbeth, Laura Marx e Paul Lafargue, Eleonor Marx, Robespierre, Romeu e Julieta, Sêneca, Roland Barthes, Florbela Espanca, Nerval e muitos outros interessantes personagens da história e da literatura que, em desespero ou escolha, buscaram a morte como a saída do mundo.
Que as obras de muitos deles nos inspirem o tanto que o exemplo não. 

Toledo, J.. Dicionário de Suicidas Ilustres. Rio de Janeiro: Record, 1999. 

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