Melodramático, anárquico, hiperativo, Leo Ferré foi um artista extremo, daqueles que se entregam ao fazer da arte na totalidade da criação e da vida. Bebendo na boemia e nos poetas malditos, desde as sombras de Baudelaire aos venenos de Rimbaud, Ferré transitou da poesia à música e à performance de modo a dar forma à caricatura de si mesmo, numa persona entre a rebeldia do contra e o romantismo melancólico. Ao mesmo tempo em que flertava com a música clássica e a alta cultura intelectual, criticava tudo isso, apelando para a popularização da arte e combatendo o academicismo, situando-se, citando Nietzsche, “além do bem e do mal”.
Segundo ele, a verdadeira poesia, expressão de sentimento e voltada para o mundo vivido, esbarrava nas convenções sociais, empilhada nas mesas das editorias, esquecida nas gavetas, assim, a música era o meio para propagá-la nas ruas, na linguagem que se fizesse inteligível. Apelando para apresentações passionais, rasgadamente emotivas, e representações ferozes na crítica contra o sistema, Ferré conquistou o público e a independência econômica e criativa, o que lhe aguçou a caricatura e o anarquismo. A despeito dos desagrados intelectuais, artísticos e políticos, visto que incomodava muita gente e que conseguia brigar seriamente até com os amigos, ele continuou a lutar quixotescamente contra tudo que considerava errado ou injusto no mundo. E fazer da arte o seu próprio mundo. Produziu muito até a morte, em 93. Músicas, shows e discos; poesia, literatura e livros. Leo Ferré na anarquia da poesia e da vida.
Nascido em Mônaco, Leo Ferré entraria para o hall dos grandes cantores franceses, colocando na música as poesias de Baudelaire, Rimbaud, Apollinaire, Aragon etc.. Com formação na música clássica, flertou com vários estilos, inclusive o rock nos 70’s, mas foi consagrado na música popular francesa. No final da vida retirou-se no interior da Toscana, Itália, onde faleceu em 14 de julho de 1993.
Coluna: MÚSICA