Lennon e as joias da coroa

por Homero Nunes
 
Em terninhos comportados e cabelinhos corridos, os Beatles apresentavam o Rock n’ Roll aos nobres e bacanas em um evento beneficente estrelado pela rainha mãe — aquela que morreu aos 246 anos — Elizabeth I, em Londres, em 1963. A família real esperava uma maratona de apresentações que culminariam em Marlene Dietrich e Maurice Chevalier. Dentre a música de câmara e os sucessos do rádio, cabia aos garotos de Liverpool tocar 3 músicas divertidas para elevar o astral da noite. Mas antes da última, Twist and Shout, John Lennon mostrou também a que veio o rock. Espirituoso e sorridente disse ao microfone: “Para o nosso último número, eu gostaria de pedir sua ajuda. As pessoas nos assentos mais baratos poderiam bater palmas… e o restante de vocês podem apenas chacoalhar as jóias”. 
 
 

 
Era ousadia pura, atitude roqueira fazendo piada com a estrutura social, os filhos da classe operária alfinetando a ostentação entre os nobres e abastados ostentadores. Anos mais tarde, os Beatles se curvariam novamente à rainha ao serem condecorados com a medalha da Ordem do Império, mas não antes, segundo Lennon, de fumar um baseado no banheiro do Palácio de Buckingham. 
 
Foi ele mesmo, o Lennon, que declarou isso em entrevista. Anos mais tarde, George Harrison desmentiu, disse que foi piada, Ringo disse não se lembrar de qual cigarro era aquele e McCartney disse que foi só tabaco. De qualquer forma, a história entrou para o anedotário dos Beatles. Se aconteceu ou não, a declaração em si já abalou algumas estruturas, chocou os caretas e, mais uma vez, Lennon fez piada com a deferência à família real e o status quo. Na verdade, a marijuana pouco importa. O interessante mesmo era o Lennon e suas declarações, peladão na cama pela paz. Long live rock n’ roll!
 
 
The Beatles
Twist and Shout
Prince of Wales Theatre
04 de novembro de 1963
 
 

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