Ella Fitzgerald, uma das três maiores divas da história do jazz, cantando Só Danço Samba, de Tom e Vinícius. Escrita em 1962 e lançada no mesmo ano em um show histórico chamado O Encontro, que contava com as presenças, além dos autores, de João Gilberto e do conjunto Os Cariocas, Só Danço Samba parece ser um caso de canção destinada a se consagrar em gravações ao vivo. Lady Ella a gravou duas vezes ao vivo. A primeira vez foi em 1966, com a orquestra de Duke Ellington, no show The Stockholm Concert. A segunda, também em 1966, num concerto realizado em Côte D’Azur (França), acompanhada pelo trio de Jimmy Jones e incluída no álbum Ella and Duke at the Cote D’Azur.
Por mais estranho que possa parecer, aos ouvidos de um brasileiro, ouvir Ella Fitzgerald em sua comovedora tentativa de cantar alguns versinhos em português, algo de resto normal, em virtude, claro, do acentuado sotaque, o que mais causa estranhamento neste vídeo (abaixo) é na verdade o ritmo conferido à canção, ou seja, a batida da bateria. É impressionante a dificuldade que os bateristas de jazz, músicos quase sempre virtuosísticos, tinham (ou têm) para tocar samba, seja em que variante for – como, por exemplo, a bossa nova. O resultado é quase sempre uma mistura amorfa que não é nem jazz, nem samba, mas algo que os músicos brasileiros costumam designar, pejorativamente, de “samba de gringo”.
Não à toa, quando Tom Jobim aceitou o famoso convite de Frank Sinatra para gravar o primeiro dos dois álbuns que eles fizeram juntos, sua única exigência foi a presença, na banda, de um baterista brasileiro. Com as baquetas nas mãos de Dom Um Romão, um dos grandes bateras da bossa nova e do samba-jazz, Tom sabia que poderia dormir tranquilo: em seu memorável encontro com “the voice”, o sotaque estrangeiro ficaria reservado a quem de direito.
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Coluna: Música