Da lama do Mississipi: B.B. King, Lucille e meu vinil autografado pelo rei do blues

por Homero Nunes

por Homero Nunes

Há dias penso num texto sobre B.B. King. Não sabia se esperava o show em São Paulo, já que tinha comprado os ingressos com meses de antecedência, ou se escrevia antes. Resolvi esperar para manter a brasa crítica acesa e dizer também algo sobre o show de uma lenda viva. Escolhi um vinil na coleção – na verdade tocado à exaustão no último mês – e parti para o show de sábado (06/10/12) com alguns amigos do peito, uma caneta de tinta e o LP nas mãos.  Alguns estranharam um sujeito carregando um vinil, mas entrei no show com o otimismo de curtir um blue da lama do Mississipi, tocado pelo rei, B.B. King, na sua guitarra “Lucille”, aos 87 anos! e, quem sabe, valorizar toda a coleção com a assinatura dele.


A banda, BB King Blues Band, entrou no palco arrepiando em um quarteto de metais, sax e trompetes, e mais baixo, guitarra, teclado e bateria. Um grupo de garotos com mais de 60 (perto dos 87 do mestre), que esquentou o show nos solos de apresentação de cada um, mostrando que a noite seria quente e inesquecível. Até então, no meio do palco, destacava-se a cadeira estofada em veludo vermelho ao lado do suporte com a estrela do show: Lucille, a guitarra encantada de Mr. King. O rei do blues só entrou no palco após os metais soprarem emoções nos corações da plateia, mas o fez com sorrisos no rosto e grande carisma. Sentou-se, lembrou o público da sua longevidade e tocou o show inteiro sentado. Grandes sucessos, aqueles blues da melhor qualidade e a voz rouca, característica, ecoando nostalgia e muita simpatia num show de embaralhar emoções. Quanto à Lucille, eterna companheira, fez sua parte em timbres de doer na alma. A cada nota, a cada som, um blue de doer na alma.

Após muitas músicas e gracejos, percebendo a movimentação e o que seria o fim do show, peguei o LP, segui para a beiradinha do palco e, disputando espaço com outros fãs, estiquei as mãos para entregar o disco. B.B. King fez sinal ao segurança para pegar comigo, olhou demoradamente a capa do disco e assinou. Tampou a caneta e me devolveu o disco, tranquilamente, enquanto uma multidão se aglomerava em volta, tirando fotos e pescando as palhetas que ele distribuía. Consegui. Meu vinil está autografado pelo rei do blues.



B.B. King dispensa apresentações, mas para quem não o conhece muito, ele é um bluesman do Mississipi que toca guitarra como poucos. Foi considerado o melhor guitarrista do mundo por gênios da guitarra como Jimi Hendrix, Keith Richards, Eric Clapton, George Harrison e John Lennon. Era o preferido de Hendrix. Influenciou todo mundo. Gravou sucessos com grandes nomes da música, aliás, com todo respeito que seus 87 anos merecem, grandes nomes da música é que tocaram com ele, sendo o bluesman mais requisitado do mundo do rock. Tem uma voz potente e marcante, grande carisma e um talento absurdo na guitarra. Apelidou suas guitarras de “Lucille” após um incidente de briga de bar por causa de uma mulher, Lucille, claro. Isso acabou gerando lendas e anedotas que dizem que Lucille tem vida própria, chorando o blues em voz própria, naquele som, repito, de doer na alma. Mr. King acumulou diversos Grammys e os mais variados prêmios ao longo da carreira, foi considerado o sexto maior guitarrista da história pela revista Rolling Stone, gravou dezenas de discos e centenas de músicas. É o mais velho, verdadeiro dinossauro, bluesman de sucesso em atividade. Um clássico vivo, da lama do Mississipi aos confins do blues e do rock. Long live B.B. King!



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