Index – o catálogo literário e os autores proibidos pela Igreja

por Homero Nunes



O que era para ser uma maldição, virou uma benção. Ter uma obra incluída no índice de livros proibidos pela Santa Madre Igreja — Index Librorvm Prohibitorvm –, era um prêmio que valorizava o livro por toda a eternidade. Se foi proibido, deve ser realmente muito bom. Tanto que o Index se tornou uma espécie de catálogo definitivo de célebres autores e importantes obras. Nem mesmo o Nobel de literatura, com seu cheque de mais ou menos 1 milhão de dólares, equivale à grandeza de ser amaldiçoado e proibido pela Igreja. Era como ser incluído no hall dos melhores, dos mais inteligentes e perspicazes autores da história. Ser elevado à imortalidade pela importância da obra, ter o reconhecimento de que o livro ultrapassa as barreiras editoriais e quebra os limites da própria literatura. Um feitiço, um encanto, que virou contra o feiticeiro, o maior tiro pela culatra da história. Sonho de autor é ser proibido.

 

O Index vigorou de 1559 a 1966 e caducou de velho. Hoje, a Igreja pensa duas vezes antes de proibir uma obra e, quando o faz, cheia de reservas, ainda gera grande publicidade para o autor. Benza Deus!
 
Alguns dos felizes amaldiçoados que constam no Index:
Charles Darwin, Galileu Galilei, Shakespeare, Voltaire, Nietzsche, Victor Hugo, Nicolau Maquiavel, Erasmo de Roterdam, David Hume, Blaise Pascal, Baruch de Spinoza, Alexandre Dumas (pai e filho), Honoré de Balzac, Emile Zola, Madame de Staël, John Locke, Denis Diderot, Gustave Flaubert, Thomas Hobbes, René Descartes, Berkeley, Jean-Jacques Rousseau, Charles de Montesquieu, Anatole France, Immanuel Kant, Montaigne, Rabelais, John Milton, Mary Shelley, Copérnico, Sartre, Simone de Beauvoir, Stendhal etc., enfim, se quiser indicação de um bom livro, é só consultar o Index

As imagens desta postagem são deste livro, a versão em HQ do clássico Fahrenheit 451.


Verbrennt mich!
“Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente os livros que continham saber pernicioso e em toda parte fizeram bois arrastarem carros de livros para as pilhas em fogo, um poeta perseguido, um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados descobriu, horrorizado, que os seus haviam sido esquecidos.
A cólera o fez correr célere até sua mesa e escrever uma carta aos donos do poder.
Queimem-me!
Escreveu com pena veloz.
Queimem-me! Não me façam uma coisa dessas! Não me deixem de lado! Eu não relatei sempre a verdade em meus livros? E agora tratam-me como um mentiroso!
Eu lhes ordeno: Queimem-me!”
Bertolt Brecht, 1933

 

O filme, por Truffaut, 1966

 

O livro, publicado originalmente em 1953

 

Sobre os autores

Acompanhe