Gilda de Mello e Souza e a brasa crítica riscando o escuro

por Homero Nunes
Numa noite de tempestade, também política, a eletricidade falhou na sala de aula. A professora aquietou os alunos e continuou a matéria no escuro, dizendo não precisar do quadro ou da luz. Naqueles tempos da ditadura e quando o cigarro não maltratava o politicamente correto, a aula foi adiante entre relâmpagos e brasa acesa. O rosto da professora era, às vezes, iluminado pelos tragos, os dos alunos pelos relâmpagos. Entre o que era dito e o que se podia ver, uma brasa de cigarro dançava no escuro, riscando o imaginário, pelas mãos da professora que gesticulava falando a aula. A história virou lenda, contada por décadas, no exemplo da professora carregada de ética e furor pedagógico. Gilda de Mello e Souza, a intelectual que dava aulas até no escuro, ficaria para a história do pensamento brasileiro, em obra e atitude, em elegância e inteligência. 

 

Gilda de Mello e Souza 1919 – 2005

Dona Gilda foi casada com o professor Antônio Cândido, o grande intelectual e crítico literário. Com ele dividiu a vida e a intelectualidade, teve três filhas. Morreu aos 86 anos.
 
A professora Gilda foi pioneira nos estudos sobre estética e moda no Brasil. Compensa o seu trabalho “O Espírito das Roupas”, no qual a autora relaciona a moda às artes, à literatura, à fotografia e outros meios de expressão:
 
 
Também compensa a versão em livro do grande seminário realizado na USP (2006) sobre o pensamento de Gilda de Mello e Souza, com a participação de acadêmicos de várias áreas: “Gilda: A Paixão Pela Forma”
 
Veja também o artigo sobre o percurso intelectual de Gilda de Mello e Souza publicado na Revista da USP:
 
Imagem da capa: Gilda, em foto tirada pelo músico João Gilberto, em 1968

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