Shaw! Socialismo para Milionários

por Isso Compensa

George Bernard Shaw convidou Winston Churchill, por telegrama, para a estreia de sua peça “Pigmalião”:

Shaw:

– Reservei duas entradas para a primeira noite da minha nova peça. Venha e traga um amigo, se tiver.

Churchill respondeu:

– Não poderei ir à primeira apresentação, mas irei à segunda, se tiver.

Socialismo para Milionários foi escrito por George Bernard Shaw (nota biográfica ao final deste post) e publicado em 1901. Sarcasmo puro, ironias mil, o livro é uma espécie de manual para milionários oprimidos pelo dinheiro e pela posição social, vítimas da desigualdade social na camada de topo. Com argumentos a favor dos milionários, Shaw satiriza a miopia social dos ricos e poderosos, debochando das incoerências, da hipocrisia, do mau-caratismo, da falta de noção. Um livro de humor, mas com ferroadas muito reais no estado das coisas. Compensa.

Na edição da Ediouro, traduzida por Paulo Rónai, temos ainda uma seleção de frases de Bernard Shaw ao final, de várias obras e declarações do autor, de onde tiramos a seleção de frases desta publicação. Mais fotos, biografia e um pequeno anedotário do qual veio o diálogo, por telegrama, com Churchill. Livrinho pequeno, mas muito sensacional.

Seguem as frases:

George Bernard Shaw 1856 – 1950

“O verdadeiro artista prefere deixar a mulher morrer de fome, os filhos andarem descalços, a mãe septuagenária trabalhar para sustentá-lo, a trabalhar em qualquer coisa que não seja a sua arte.”

“Um homem moderadamente honesto com uma esposa moderadamente fiel, sendo ambos bebedores moderados numa casa moderadamente saudável, eis o verdadeiro tipo da classe burguesa.”

“Não deveis supor, só por eu ser um homem de letras, que nunca tentei ganhar a vida honestamente.”

“A nomeação de uma pequena minoria corrompida é substituída, na democracia, pela eleição por uma multidão incompetente.’

“Quando um tolo pratica um ato de que se envergonha, declara sempre que fez o seu dever.’

“A escravidão atingiu o seu ponto culminante em nossa época sob a forma do trabalho assalariado livre.”

“Uma vida inteira de felicidade? Ninguém a aguentaria: seria o inferno na Terra.”

“Um gentleman não é um homem, pelo menos não um homem comum – pois o homem comum não passa de um escravo que alimenta e veste o gentleman melhor que os demais.”

“O pior crime para com os nossos semelhantes não é odiá-los, mas demonstrar-lhes indiferença: é a essência da desumanidade.”

“Há duas tragédias na vida: uma, a de não alcançarmos o que o nosso coração deseja; a outra, de alcançá-lo.”

“O que realmente lisonjeia uma pessoa é que a julguemos digna de ser lisonjeada.”

“É claro que um romance não pode ser ruim demais para não ser publicado… Mas é decerto possível que um romance seja bom demais para ser publicado.”

“Sabeis o que é um pessimista? Um homem que julga os demais tão sórdidos como ele próprio e por isso os detesta.”

“A ideia de que houve qualquer progresso desde a época de César (menos de 20 séculos) é absurda demais para entrar em discussão. Toda a selvajaria, a barbárie, o obscurantismo e todo o resto de que nós guardamos lembrança, no passado, existe no presente momento.”

“O homem razoável adapta-se ao mundo; o desarrazoado insiste em tentar adaptar o mundo a si mesmo. Por isso, todo progresso depende do homem desarrazoado.”

“Há apenas uma religião, embora dela exista uma centena de versões.”

“As igrejas têm que aprender a praticar a humildade tão bem quanto pregá-la.”

“O sacrifício de nós próprios permite-nos sacrificarmos sem vergonha os outros.”

“Não gosto de sentir-me em casa enquanto estou no estrangeiro.”

“A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal do qual somos feitos.”

George Bernard Shaw posando para Paolo Troubetzkoy, Itália, 1929

“Humor faz parte do bom jornalismo. Pode-se argumentar que Bernard Shaw foi o maior jornalista de todos os tempos. Foi certamente o maior crítico musical que tivemos até hoje e, com alguns lapsos, o maior crítico de teatro.”

Paulo Francis

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Sobre Bernard Shaw

Bernard Shaw foi dramaturgo, escritor, cronista, ensaísta, crítico, jornalista, intelectual, polemista, ativista, iconoclasta. Irlandês de Dublin que viveu em Londres quase a vida toda, criticando a política inglesa sobre a Irlanda. Cofundador da London School of Economics e da Fabian Society, uma “sociedade socialista reformista” (seja lá o que isso signifique). Autor de 52 peças, 5 novelas, inúmeros ensaios e crônicas sobre quase tudo que se podia escrever de sua época. Não há nem como mensurar. Ganhou o Nobel de literatura em 1925 e por pouco não recusou o prêmio, sendo convencido pela esposa que era algo maior que ele, importante para a Irlanda. O expatriado aceitou pela pátria, mas recusou a quantia em dinheiro, sugerindo que fosse empregada na tradução de livros suecos para o inglês. Na Primeira Guerra Mundial colocou-se contra a guerra sugerindo o absurdo da paz e da diplomacia. Argumentou que todos eram igualmente culpados pela guerra. Na Segunda Guerra Mundial, largou inconformado o pacifismo diante da ideia de que não era possível outra saída, criticando de cara a neutralidade dos States e convocando o resto do mundo a lutar contra o fascismo. Morreu aos 94 anos, ainda produzindo até o final.

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As frases citadas foram retiradas do livro:

Socialismo Para Milionários*

*SHAW, George Bernard. Socialismo para Milionários. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

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