Sebastião Salgado: do contraluz do sertão aos confins da fotografia

por Homero Nunes
Viva os 70 anos de Sebastião Salgado!
*8 de fevereiro de 1944
Desmonte de navios na maré baixa, Chittagong, Bangladesh, 1989.
Do contraluz de Aimorés, no vale do Rio Doce, Minas Gerais, Sebastião Salgado herdou a luz de suas fotografias. O sol forte que estourava as vistas do menino, o colocava nas sombras, fugindo do calor que rachava o solo e a pele. Empoeirado à sombra, ele via tudo sempre vindo da claridade em sua direção, em contraste, formando riscos, cortando imagens. Da paisagem de Minas, Tião deixou a quentura do sertão para a frieza da cidade grande, de outro hemisfério, do mundo. Fotógrafo por ironia, por acaso, por sorte nossa, fez sua primeira imagem profissional aos quase 30 anos, depois de economista, executivo careta de carreira mais que encaminhada nos negócios. Abandonou tudo para se tornar fotógrafo, um dos maiores de todos, da história. Mas para ele não era suficiente registrar as coisas em filme e papel, era preciso lutar por um mundo melhor, revelando imagens de extrema beleza de realidades também extremas. Carregado na temática social, engajado em mostrar a humanidade mais crua, Sebastião Salgado rodou os quatro cantos, desbravando e repetindo, capturando o humano desigual, a pobreza, o trabalho, o movimento, a história, a vida. África, Ásia, Américas e o que sobrou entre os polos, no presente e no passado que resiste ao presente. Uma fotografia dramática, barroca, em preto e branco clássico, que extrai beleza de tudo, que grita conteúdo e encanta pela forma. Seus trabalhos foram expostos como arte por todo lado, premiados de Nova York a Veneza, do Oiapoque ao Amarelo. O Tião, aquele careca do sertão, do sol apertado de Aimorés, de Mutum, brilharia agora em Paris, em Berlim, Tóquio, Shangai e na história da fotografia.
Crianças no orfanato do campo de refugiados de Goma, no Zaire, 1994.
África, 2006
Trabalhador recebe um spray químico para proteção contra o calor da queima de petróleo, Kwait, 1991
Trabalhadores sem terra, Brasil, 1996
No último livro, Gênesis, passou 8 anos buscando a Terra dos primórdios, naqueles lugares que ainda lembram o começo de tudo. O planeta ancestral e aqueles que vivem como nossos ancestrais. Em 245 imagens escolhidas, o fotógrafo redescobriu o mundo, mostrou o distante e o perto escondido, revelou paisagens e a vida que ainda resistem ao processo da modernidade que tudo arrasta, que existem alheios à alienação da vida diária que nos turva a visão. Um planeta vivo, maltratado por todos nós, mas de absurda beleza.
Sebastião Salgado, 70 anos
Compensam muito os livros fotográficos:
 
Trabalhadores, 1996
Terra, 1997
Outras Américas, 1999
Êxodos, 2000
Retratos de Crianças do Êxodo, 2000
África, 2007
Gênesis, 2013
Coluna Fotografia


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