Les Amants du Pont-Neuf: a decadência poética no cinema de Leos Carax

por Homero Nunes
 
Les Amants Du Pont-Neuf: dois mendigos sujos e bêbados – e uma menina de olhos doentes – escornados nos bancos entre os postes. O Sena ao fundo, emoldurado pelos típicos prédios parisienses, correndo como o tempo. O metrô, dos sons e ruídos, como o labirinto a ser vencido para expulsar o perigo do outro ou como a galeria em fogo que queima no egoísmo louco do amor. O realismo egoísta daquele que ama, que faz tudo – até o pior – pelo medo, pela angústia de perder o que nunca lhe pertenceu. O ínfimo do humano que ama possessivamente, obsessivamente, tanto, a ponto de preferir a triste cegueira da pessoa amada que a fugaz ideia de perdê-la. As metáforas que passam pelos olhos tão doentes quanto a alma, pela ponte, pelo rio, pelas margens de um mundo de fantasia na decadência da realidade. Marginais de um cenário romântico e impossível.
 
 
O filme de Leos Carax custou pontes de dinheiro, literalmente, pois foi preciso construir uma réplica da Pont-Neuf e de todo o arrondissement, quarteirão, em cidade cenográfica quando a reforma da ponte chegou ao fim e a licença de filmagens expirou. Tornou-se um dos filmes mais caros do cinema francês, embora não tenha muitos efeitos especiais e tenha estilão de independente. É um filme-arte, mas foi criticado por mostrar uma Paris decadente, dos moradores de rua e da sarjeta humana, feia e suja, sob a luz do neon. Metafórico, também é contraditório, confuso às vezes, ríspido, sujo, mas reflexivo e poético. Com fotografia intrigante e bela, edição seca, trilha sonora potente e atuação marcante de Juliette Binoche. Ela mesma, Juliette Binoche, faz a personagem principal que dança na decadência das ruas a sua própria decadência, na ponte entre o amor sujo e sincero, entre a beleza e a doença, o passado e o futuro, sem esperanças. Ele, o mendigo sujo, cospe fogo e perambula na tentativa do futuro, condenado pelo destino ou pelo acaso. Fabuleux!
 
 
No Brasil, Os Amantes de Pont Neuf
Direção de Leos Carax, 1991
Com Juliette Binoche e Denis Lavant
De Leos Carax, também compensa:
Mauvais Sang, 1986
“Sangue Ruim”

Sobre os autores

Acompanhe