Di Cavalcanti, Glauber Rocha e o enterro do primeiro faraó brasileiro

por Homero Nunes
“Ninguém Assistirá ao Formidável Enterro da Tua Última Quimera, Somente a Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!” ou simplesmente “Di” são os títulos extremados do documentário-arte filmado por Glauber Rocha sobre a morte do pintor Di Cavalcanti (1897-1976)

Num tom debochado, que lhe custou a proibição nos anos 70, e ao mesmo tempo poético e reverencioso, o cineasta prestou uma autoral homenagem ao “amigo Di” com a filmagem do velório e enterro do pintor modernista. Doido de jogar pedra.
 
 
Ora como um locutor desvairado, ora como um poeta em declamação, Glauber edita uma profusão de imagens, sons e falas variadas, reunidas sob uma trilha sonora avessa ao ritual fúnebre: Pixinguinha, Paulinho da Viola, Jorge Ben e até o sambinha de Lamartine Babo, “O Teu Cabelo Não Nega…” Entre a recitada biografia do pintor e os gritos de Glauber na direção – “um,dois,três, corta!”, “Filma a cara dele!” – o filme evoca a obra de Di Cavalcanti alternada com cenas do velório no Museu de Arte Moderna (MAM) e do sepultamento no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
Contestador, Glauber subverteu um pequeno enterro, de um grande homem, num filme original e numa homenagem imortal. Como diria Antônio Callado: Di Cavalcanti, “embalsamado pelo documentário de Glauber, transformou-se no primeiro faraó brasileiro”.

 
“Ninguém Assistirá ao Formidável Enterro da Tua Última Quimera, Somente a Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!” ou “Di” é um curta-metragem de 15 minutos e está disponível no youtube, em duas partes:
 
Compensa muito conhecer a obra de Di Cavalcanti
De Glauber, assista:
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Terra em Transe
Curiosidades:

O filme ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no festival de Cannes em 1977.
O título menor, “Di”, é uma referência óbvia; já o título maior, “Ninguém Assistirá ao Formidável Enterro da Tua Última Quimera, Somente a Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!”, é trecho do poema Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos, disponível em: 

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