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Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em Copacabana, 1960
Em 2 de setembro de 1960, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir desembarcavam no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na temporada que passaram no Brasil. A visita, que durou dois meses e meio e foi quase toda ciceroneada por Jorge Amado, o autor do convite ao casal, sem dúvida deu o que falar, repercutindo bastante na imprensa da época. Posteriormente, tornou-se objeto de pesquisas acadêmicas, dando origem a livros copiosos. Nelson Rodrigues, em uma crônica publicada alguns anos depois da passagem do filósofo existencialista por aqui, disse que ele teve, entre nós, “um sucesso de Frank Sinatra”.
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Sartre em Ouro Preto, foto por Zélia Gattai, 1960
Protótipo do intelectual “engagé”, não surpreende que a primeira pergunta dirigida a Sartre na entrevista do desembarque (vídeo abaixo) tenha sido sobre Cuba e sua revolução, então uma flor em botão. É bom lembrar que Sartre e Beauvoir estiveram na ilha caribenha poucos meses antes de chegarem ao Brasil, onde desfrutaram da hospitalidade de Fidel Castro e se entusiasmaram com os rumos iniciais tomados pelo seu governo. Conforme se pode ver no filme, captado em 16 mm, a claque posicionada em torno do casal era quase toda formada de simpatizantes da revolução cubana. Anos mais tarde, em 1971, por conta da prisão do poeta Herberto Padilla, Sartre e Beauvoir romperiam com o regime castrista.
Logo atrás de Jean-Paul Sartre, tal qual um verdadeiro papagaio de pirata, está o encenador e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa. O motivo de sua presença ali, para além da admiração pelo intelectual francês, era mais pragmático: queria ele a autorização para realizar uma adaptação teatral de “A Engrenagem”, roteiro cinematográfico escrito por Sartre cujo tema era a inutilidade dos movimentos revolucionários que não visavam a libertação do imperialismo estrangeiro. Concedida a autorização, Zé Celso e Augusto Boal realizaram às pressas a adaptação, que estreou em outubro de 1960 – quando Sartre e Beauvoir ainda estavam no Brasil – e se tornou o último espetáculo da fase amadora do Teatro Oficina.
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Sarte, Zé Celso e Simone de Beauvoir