Um grande amigo meu (o Morais, jornalista da turma do Isso Compensa) perdeu recentemente uma faxineira por afixar uma cópia deste quadro na parede. Ela, senhora de idade, crente, não suportou trabalhar num ambiente com “a origem do mundo” exposta desta maneira. Viu o quadro e nunca mais voltou. Sentiu-se ofendida, como muitos, desde o século XIX. Hoje, a tela ainda causa espanto no Musée d’Orsay, em Paris.
Quando pintou este quadro para um colecionador de arte erótica, Gustave Courbet sabia que causaria polêmica. Realista, socialista convicto e crítico feroz da sociedade burguesa, Courbet se apresentaria a partir de então também como um imoralista. Conseguiu. Execrado, o quadro ficou desaparecido por décadas, até que foi encontrado escondido atrás de uma outra pintura, na casa de Jacques Lacan. A família do psicanalista doou o quadro ao Museu d’Orsay após a morte da viúva de Lacan. E nem mesmo ele o deixava exposto como o Morais; conta-se que o mostrava apenas aos mais íntimos e esclarecidos, aguardando o susto. Em visita ao Orsay (obrigatória para quem estiver em Paris!), vale a pena reparar na reação dos turistas e falsos moralistas diante da tela. Há gente que a viu e nunca mais voltou, não é Morais?