A exceção de Degas na violência interior

por Homero Nunes
Degas (1834-1917) ficou conhecido como o pintor das bailarinas. Pintou em lindas telas mocinhas flutuantes nos palcos e ensaios do balé parisiense. Mas em um quadro, um único quadro, pintou sutilmente o tema da violência, da relação de força entre um homem e uma mulher, no ponto obscuro da intimidade, no Interior, no tenebroso interior do quarto.
 

Edgar Degas: Interior (A Violação) – 1870

 
“Como num palco de teatro, mostra-se um quarto pobremente iluminado, no qual um homem com as pernas ligeiramente abertas se apóia contra uma porta, impedindo a passagem a uma mulher jovem que, vestida apenas com uma camisa de noite, parece prestes a desfalecer sobre um cadeirão. Alguns indícios – uma maleta com interior forrado de cor salmão, um corpete atirado ao chão, as luvas e o casaco do senhor em cima da cama – insinuam que ocorreu ali algum fato grave, embora não se expresse de forma clara.
O que aconteceu ou o que está prestes a acontecer? Significa o sangue sobre a colcha que houve violência? Como pode ter acontecido um encontro violento se o quarto se encontra tão arrumado e a cama está intacta? Esta pintura constitui uma exceção na obra de Degas.
Tematicamente não houve continuidade relativamente às anteriores e jamais foi exposta enquanto ele viveu e também não foi vendida. Inclusivamente, o título é incerto: não é claro se Degas o intitulou A Violação ou, de forma mais neutra, Interior. Sem explicar realmente uma história, Degas consegue provocar através de uma distribuição estratégica da luz, colocando o homem na escuridão e a mulher a cama sob uma luminosidade esbranquiçada, uma sensação de violência latente e medo.” (PADBERG, Martina. O Impressionismo. Ullmann-Publishing, 2009. P.145)

DICA: Compensa o livro – O Impressionismo de Martina Padberg da editora Ullmann
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