A Ascensão de Cristo, Salvador Dalí, 1958

por Homero Nunes

 

Ao longo de séculos e séculos artistas pintaram a ascensão de Cristo, com o messias frontal, tranquilo e belo, cercado de anjinhos, com o olhar piedoso que aparece em mosaicos bizantinos, afrescos medievais, telas renascentistas, arte sacra. Foi preciso, contudo, a loucura de Dalí para trazer à tona um Cristo diferente daqueles, deitado, sem rosto, ascendendo em luz e energia. No centro, no primeiro plano, estão os pés do ressuscitado, dando o equilíbrio à cena que circunscreve o momento em que a carne é transmutada em espírito. Humano de pés juntos é morto, mas sem chagas, curadas no dualismo da divindade. No alto o recebem o Espírito Santo, no pássaro branco de sempre, e Deus, representado por Gala, a mulher e musa, o grande amor de Dalí, em lágrimas. Das mãos contorcidas em força, escapa a energia do momento, atômico, nuclear, assim como o sol se expande em luz, destacando o núcleo, o átomo. Tudo paira sobre um mundo terreno, minúsculo, insignificante, acima dele a trindade, na geometria triangular que se forma entre os braços abertos, Pai, Filho e Espírito Santo.  Um Cristo em ascensão, recebido nos céus em energia liberada e força simbólica, iluminando o olhar dos espectadores, traçado em tinta no imaginário da fé. 

 
Salvador Dalí
Ascensão de Cristo, 1958
Coleção de Juan Antonio Pérez Simón
 
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