As duas torres: um museu entre as crenças de Amsterdam

por Homero Nunes

Rijksmuseum, Amsterdam

Um prédio católico numa cidade de maioria protestante. Duas torres imponentes que fazem lembrar as igrejas católicas. As protestantes, na Holanda, costumam ter uma torre, solitária. Em Amsterdam, a ironia do arquiteto colocou no prédio mais importante da cidade – o Rijksmuseum, museu nacional – as características do gótico-romântico, católico, para lamento eterno dos protestantes. Neorenascentista, neogótico, eclético.

Aliás, o mesmo arquiteto, Pierre Cuypers, fez isso nos dois prédios mais importantes da cidade: além do museu, a Centraal Station, a estação central. Muitos ainda hoje o amaldiçoam por isso, pelos prédios de duas torres, belíssimos, importantes. 

A arquitetura do museu mais importante da Holanda...
Rijksmuseum, inaugurado em 1885
Centraal Station, inaugurada em 1889

A estação é a porta principal da cidade, profanada pelos movimentos dos trens, pelas gentes de toda parte, multicultural. Vindo por ela é chegar da melhor forma, no centro de Amsterdam, a uma caminhada da Dam Square, a praça principal. Movimentada, cheia de bicicletas em frente, milhares delas. Cercada por canais.

A estação foi construída sobre um aterro, uma ilha artificial feita com o material retirado da abertura de novos canais no final do século XIX. Foram milhares de estacas de madeira para firmar as fundações. Na fachada o arquiteto seguiu o estilo eclético (neorenascentista, neogótico, romântico) que usou no Museu Nacional, alguns anos antes (projeto de 1876, inaugurado em 1885). Mais uma vez, com as duas torres que lembram as catedrais católicas. A estação foi inaugurada 4 anos após o museu, em outubro de 1889.

Centraal Station

O Rijksmuseum carrega a aura do sagrado pelo tesouro que abriga: arte e história. Vermelho de tijolos à vista, com detalhes em dourado, o prédio do museu ocupa a posição principal na praça dos museus, a Museumplein. Paragem obrigatória para todos que visitam Amsterdam, referência para todos que lá moram, o “raiquismiuseum”  é o museu mais importante da Holanda, um dos mais importantes do mundo. Rivalizando com o Louvre, o Prado, o Hermitage, o Metropolitan e poucos mais.

Planta mostrando a estrutura com os arcos e arquitetura eclética.

Coleção que abriga a arte holandesa e flamenga, obviamente, mas que é estimada em mais de um milhão de objetos. História de séculos, de épocas. Raridades de todas as partes, inclusive algumas peças feitas no Brasil, no tempo quando Pernambuco era domínio de Maurício de Nassau e que Olinda era a nova Holanda. O talento de Frans Post. Suas joias do período de ouro holandês vão de Rembrandt a Frans Hals e Vermeer, com destaque para a “Ronda Noturna” de Rembrandt – com seus três metros e meio de altura e mais de quatro de largura, de 1642 – e “A Leiteira” (ou Moça com Jarro de Leite, de 1658-60), obra prima iluminada pelo gênio de Vermeer.

Rembrandt, Ronda Noturna, 1642
Vermeer, A Leiteira, 1658-60

No projeto, uma passagem foi pensada para que o edifício servisse de portal à imensa praça dos museus. Hoje ciclovia que permite passar literalmente por dentro do prédio, antes coisa de cavalos e carruagens. Queda de braço, já fecharam e abriram a passagem aos ciclistas várias vezes. Continua aberta, mas há quem queira fechar apenas para pedestres. Ah, pedestre tem preferência, mas imagine pedalar sob a arcada neogótica em direção à Museumplein. O primeiro vizinho famoso é o museu Van Gogh. Maravilhoso.


Logo depois da passagem ficava o célebre letreiro “IAMsterdam”. A foto era sempre boa, com as duas torres ao fundo, atrás do escrito. Foi retirado por uma causa ligada ao meio ambiente, por ser símbolo do turismo de massa e um estímulo ao individualismo. Questão política. A área estava inflamada, cheia de turistas mais interessados na foto do que nos museus. O letreiro está agora em uma parte mais nova da cidade, a fim de incentivar o turismo fotográfico por lá.

A fachada da museumplein e o letreiro “I amsterdam” – Foto por Michael Kooren/Reuters

O Museu Nacional da Holanda ficou fechado por 10 anos, entre 2003 e 2013, para reformas e restauração. Sistemas de proteção, manutenção e segurança. Durante este tempo. Abriu ao público apenas algumas salas, com amostra da coleção. Foi reinaugurado com muita festa. Desde então está em pleno funcionamento, diariamente das 9 às 17hs.

Reinauguração do Rijksmuseum, 13/04/13 – Foto por Peter Dejong, Associated Press

Rijksmuseum. Museumstraat 1, 1071 XX, Amsterdam, Holanda.

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